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domingo, 1 de dezembro de 2013

O REI HAMURÁBI E SUAS LEIS



O REI HAMURÁBI E SUAS LEIS 
Por Nicéas Romeo Zanchett 
            Hammurabi, o primeiro rei e fundador da Babilônia (cerca de 2287 - 2232 a. C.) uniu o norte e o sul e fez de Babilônia a capital do reino. Para evitar as inundações e prover o país de água, construiu um canal  gigantesco que tomou o neno dele, e mais tarde ficou conhecido como o Real Canal de babilônia. Criou as primeiras leis e muitos dos seus escritos ainda existem.
            Aqui apresento-lhes uma pequena parte dos seus escritos que até hoje são considerados importantes para a ordem e desenvolvimento de uma nação. 
Nicéas Romeo Zanchett 
             "Quando, EL, p supremo rei dos Anunaki, e Bel, senhor dos céus  e da terra que fixa o destino do Universo, - a Marduck, filho primogênito de Ea, divino mestre do Direito, as multidões dos homens a atribuíram entre os Igigi, o fizeram grande, em babilônia, proclamaram seu nome augusto, o enalteceram nas regiões, lhe destinaram no coração (desta cidade) uma realeza eterna, cujos fundamentos estão firmes como céus e terra, - então eu Hammurabi, insigne, nobre, temendo ao meu Deus - para criar justiça no país, para destruir mau e perverso, afim de que um poderoso não oprima o fraco, para aaparecer como o sol às cabeças negras, (os homens) para alumiar a região, El Ibel, para deleitar a carne dos homnens, me chamaram! Hammurabi, o pastor, eleito, de Bel, eu mesmo! Autor perfeito do luxo e da abundancia, que torna completas todas as coisas em Nippur, Dur-An (Ki) o provedor generoso d'E-Kur, rei-herói que tornou a por a cidade de Eridu no seu primeiro estado, purificador do santuário d'E-Zu-Ab, o agressor das quatro regiões, que exalta o nome de Babel, que regozija o coração de Marduck seu senhor, que cada dia está no I'E-Sag-Gil, vergôntea real que o deus Sin criou , que acumula de bens a cidade d'Uur, humilde suplicante, que trás a abundância e E-Ner-Nu-Gal, rei da sabedoria, favorito de Samas, poderoso fundador de Sippar, que cobriu de ventura o santuário d'Aya, arquiteto d'E-Babbar semelhante ao trono dos céus, guerreiro vingador de Larsa, renovador d'E-Babbar em honra de Samas, seu ajudante, príncipe que fez reviver Uruk, procurando águas de fertilidade para os seus habitantes, que levantou o cume do templo E-AN-Na que levou aos últimos limites o luxo em honra  d'Anu e Ninni, o protetor da região que reuniu os habitantes dispersos de Nisin, que fez abundar a riqueza em E-Gal-Mah, potentado real de cidade (capital), pequeno irmão do deus Zamama, que firmou a residência de Kis, que rodeou de esplendor o templo de ME-TEUR-SAG, o decorador dos grandes santuários de Ninni, o sacristão do templo de HAR-SAG- Kalama, o baluarte (em que se despedaça) o inimigo, que fez atingir o fim desejado ao seu auxiliar, que engrandeceu Kutha, ampliou todas as coisas do templo SIT-LAM, búfalo impetuoso que prostra os inimigos, o bem  amado de TU-TU, que deseja por amor a Barziba, o augusto, o infatigável para E-ZI-DA, divino rei de cidade, (capital) sábio, inteligente, que estendeu as plantações de DIL-BAT (Ki), que acumulou os trigos para o deus IP, (deus), forte, mestre das insígnias, cetro e tiara de que ele o investiu, objeto de afeição de MAMA, que definiu o cerimonial de ajuizado, o acabado, que preparou as pastagens e os bebedouros em Sirpurla e Girsu, que tem ofertas magníficas para o templo dos Cinquenta, que captura os inimigos, o favorito de Telitim, que cumpre os oráculos da cidade de Hallabi, que regozija o coração de Anunit, príncipe augusto, cuja prece Adad ouve, que descansa o  coração de deus Adad, o guerreiro em Bit Karkara,  que fez expor com gosto ornamentos em E-UD-GAL-GAL, rei que deu vida à cidade d'Adab, o prelado do templo E-MAH, príncipe real da cidade, (capital), lutador sem rival, que dá a vida à cidade de Maskan sabri, que saciou de abundância o templo SIT-LAM, o sábio, o regedor que alcançou todos os refratários, que abrigou os habitantes de Malkã durante a desgraça, firmou as suas moradas na abundância, - que, em Ea e em DAN-GAL-NUN-NA para sempre destinou ofertas puras porque eles exaltaram a sua soberania, príncipe real de cidade (capital) que fez dessas habitações sobre o Eufrates, que fez parar a vista de Dagan, seu criador, que retribuiu os habitantes de Mera e de Tutul, o insigne, o augusto, que fás brilhar a face de Ninni, que põe comidas puras diante de NIN-A-ZU, que sacia os seus súditos durante a fome, assegurando as suas rações, baluarte de Babel  em paz, pastor dos homens, servidor, cujas obras agradam a Anunni, que em E-UL-MAS; baluarte nit, que instaurou a Anunit em E-UL-MAS; baluarte  d'Agané das ruas formosas, que tem escravisada a criadagem, que retificou o curso do Tigre, que levou o seu gênio protetor a Assur, que fez brilhar o esplendor (?) rei que em Ninua no templo de E-DUP-DUP glorificou os nomes de Ninni, o augusto suplicante dos grandes deuses, descendente de Sumula ilu, filho primogênito de Sin mubalit,  vergôntea eterna de realeza, rei poderoso, Sol de Babel, que projeta a luz sobre o país de Sumer e Accad, rei obedecido das quatro regiões, favorito de Ninni, eu próprio! Quando Marduk me investiu para governar os homens, para conduzir o Universo e para ensinar - eu instituí no país o "Direito e a Justiça", e fiz a felicidade dos povos, nesse tempo: 






                                                                           AS LEIS 
                 - Se alguém enfeitiçou um homem lançando um anathema (calúnia) sobre ele sem ter provado que fosse culpado, ele é digno da morte. 
                 - Se alguém lançou um malefício sobre um homem sem ter provado que fosse culpado, o enfeitiçado irá ao rio e nele mergulhará. 
                 - Se o rio o guarda, a sua casa passa àquele que lançou o malefício; se o rio o inocenta e o deixa são e salvo, o seu inimigo é digno de morte e é aquele, que sofreu a prova da água, que se apodera da casa do outro. 
                 - Se um juiz proferiu um julgamento, deu uma sentença, por documento selado, e, se em seguida anulou a sua sentença, ele comparecerá por causa desta cassação, pagará doze vezes a reivindicação que fazia o fundo do debate, será destituído do seu cargo pára sempre e não poderá nunca mais tomar assento como juiz. 
                 - Se alguém roubou uma criança, ele é digno de morte. 
                 - Se alguém tomou de arrendamento por três anos um campo de várzea para cultivar, e se foi negligente e nada cultivou, ele o restituirá ao proprietário no quarto ano depois de o ter preparado por lavoura, esterroamento e sementeira, e ele pagará ao proprietário 10 gur de trigo por 10 gan. 
                 - S alguém abriu uma regueira  para regar e, por falta de atenção, é causa de que o campo vizinho seja submergido, ele restituirá trigo segundo a produção do vizinho. 
                 - Se alguém, sem permissão do proprietário cortou uma árvore num pomar, ele pagará uma meia mina de prata. 
                 - Se alguém, tendo confiado o seu campo para ser posto de pomar, o jardineiro o plantou em pomar e tratou durante quatro anos, no quinto ano o proprietário e o jardineiro partilharão em proporções iguais, mas o proprietário determinará ele próprio a parte que ele tomará. 
                  - Se alguém deu o seu pomar a explorar a um jardineiro, durante a exploração, o jardineiro dará dois terços do rendimento ao proprietário e tomará ele próprio um terço dele.  
                  - Se em casa de uma negociante de vinho se reúnem rebeldes e ela não os apanha para os conduzir ao palácio do governo, ele é digna de morte. 
                  - Se uma sacerdotisa, que não mora no claustro, abre a taberna e entra para beber, será queimada. 
                  - Se alguém, tendo contraído um dívida, vende sua escrava que lhe deu filhos, o dono da escrava restituirá ao negociante o dinheiro que ele lhe tiver pago e lhe libertará assim a sua escrava. 
                  - Se alguém difama uma sacerdotisa ou a mulher de um homem livre sem dar a prova, será arrastado perante o juiz e ser-lhe-á rapada a testa. 
                  - Se alguém esposar uma mulher  sem um contrato, esta mulher não é esposada. 
                  - Se a mulher de alguém for surpreendida a dormir com outro, serão amarrados juntos e deitados à água, a não que o marido dê quartel à sua mulher e que o rei não dê quartel ao servidor. 
                   - Se alguém, violentando a mulher de um homem , mulher ainda virgem e vivendo em casa de seu pai, dorme com ele, se ele é apanhado, este homem é digno de morte e esta mulher será absolvida. 
                   - Se uma mulher for amaldiçoado por seu marido, apesar de que ele não a surpreendeu a dormir com outro, ela jurará isso pelo nome de Deus e voltará para sua casa  na casa do seu pai. 
                   - Se alguém quer repudiar sua mulher que não lhe deu filhos, ele lhe entregará todo o dinheiro de seu dote e lhe compensará o enxoval que ela trouxe de casa de seu pai e em seguida a repudiará. 
                  - Se não há dote, ele lhe dará pelo  repúdio uma mina de prata.
                  - Se se trata de nobre, ele lhe dará um terço de mina de prata. 
                  - Se a mulher de um homem que mora na sua casa é levada a sair, semeia a separação, arruína a casa, deixa lá seu marido, far-se-á comparecer, e seu marido diz: "eu a repudio", ele a reenviará e ele irá onde ele quiser e ele não lhe dará nenhum preço do repúdio. 
                  - S seu marido diz: "eu não a repudio", este marido esposará outra mulher e a primeira ficará como serva em casa dele. 
                 - Se uma mulher detesta seu marido e lhe diz: "tu não me possuirás" as razões de sua queixa serão examinadas e se ela é dona de casa sem censura, e se seu marido, ao contrário, vive por fora e a despreza muito, esta mulher é inocente, ela retomará seu enxoval e voltará para casa de seu pai. 
                 - Se alguém esposou uma mulher, e ela não lhe deu filhos, quando ele quiser esposar uma concubina, poderá fazê-lo; ele a introduzirá na casa, mas não lhe dará condição igual à da esposa.   
                 - Se alguém esposou uma mulher e se ela deu uma serva a seu marido, o qual a faça mãe, quando depois essa serva entrar em disputa com a sua senhora por causa dela ter tido filhos, a sua senhora não poderá mais vendê-la; far-se-lhe-á uma marca e ela será (ré) contada entre as servas. 
                 - Se alguém, tendo filhos da sua mulher e da sua serva, disse em sua vida aos filhos da serva: "vós sois meus filhos" e os contou entre os filhos da esposa, - quando o pai morrer, os filhos da esposa e os da serva dividirão entre si, em partes iguais, a fortuna mobiliária da casa paterna, mas os filhos da esposa escolherão primeiro. 
                 - Se alguém adotou uma criança de pouca idade e a educou, e se ele mesmo funda uma família   e em seguida tem filhos, e se pensa renegar o filho adotivo, este não se irá embora. Seu pai adotivo lhe dará  o terço duma parte de filho sobre sua fortuna mobiliária, e então ele se irá embora. Do campo, jardim, casa, não se lhe dará nada.
                 - Se um filho bate no seu pai, cortar-se-lhe-ão as mãos. 
                 - Se um filho fura um olho a um homem livre, furar-se-lhe-á um olho. 
                 - Se ele fura o olho de um nobre ou quebra um membro de um nobre, pagará uma mina de prata. 
                 - Se ele fura um olho de um escravo ou lhe quebra um membro, pagará metade do preço do escravo. 
                 - Se alguém fere no cérebro um homem de condição superior a ele, receberá em público 60 pancadas com um nervo de boi. 

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Algumas dessas leis seriam muito úteis no Brasil.
Nicéas Romeo Zanchett 
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terça-feira, 26 de novembro de 2013

OS PRIMEIROS GRANDES LIVROS

Homero - O pai da poesia. 
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OS PRIMEIROS GRANDES LIVROS 
Por Nicéas Romeo Zanchett 
A narrativa mais antiga que se conhece chama-se "O Marinheiro Náufrago"; foi escrita no Egito cerca de 2500 anos antes de Cristo. Ao que tudo indica, a lenda de "Sinbad o Marinheiro, foi inspirada ou retirada  deste livro. Mas os mais antigos dos verdadeiros livros são a "Ilíada" e a "Odisseia", que se supõe terem sido compostas por um poeta grego chamado Homero, de 800 a 1000 anos antes da nossa era. Acredita-se que ele fez um agrupamento de seus trabalhos e também de outros poetas;   é certo que os grandes poemas que tem o seu nome não foram escritos por um único poeta. Virgílio, o maior dos poetas romanos, nasceu - exatamente - 70 anos antes de Cristo, e a sua obra mais célebre é a "Eneida". Estas três obras foram os primeiros grandes livros. 
Antes de analisarmos a história da "Ilíada", é preciso  conhecer o verdadeiro sentido deste nome. "Ilíada" é a forma portuguesa de uma palavra grega que quer dizer "a respeito de Ilion", e Ilion era o nome de uma cidade que havia na costa da  Ásia Menor. Em português costuma-se chamar esta cidade de Troia, e ao país de que era capital Troada; os gregos, porém, conheciam-na por Lion. Seus habitantes chamavam-se troianos. A "Ilíada", que foi composta por Homero, o mais antigo poeta grego há quase três mil anos, conta-nos a história de uma grande guerra que os gregos empreenderam contra os troianos, mas não é fácil definir, no poema, o que é verdadeiro e o que é fantasiado pelo poeta; essas duas coisas encontram-se ali muito misturadas e de difícil separação.
A GUERRA POR UMA RAINHA RAPTADA 
                  O rei de Troia chamava-se Priamo, e sua mulher Hecuba. Dos seus muitos filhos, Heitor era celebre pela valentia, e Páris pela beleza. Aconteceu que Páris foi mandado como embaixador a Menelau, rei de Esparta, na Grécia. Este rei era casado com Helena, mulher de extremada formosura, considerada a mais bela mulher da Grécia. Quando Páris chegou a Esparta, o rei estava ausente, e Páris foi desleal para com ele. Aproveitou-se de sua ausência e raptou Helena de seu marido, levando-a consigo para Troia. 
                 A Grécia, que é um país de muitas ilhas, não estava unida por um único rei e era governada por muitos senhores e príncipes que não dependiam uns dos outros. Por essa razão, quando Menelau, rei de Esparta, descobriu que lhe tinham raptado sua bela rainha, convocou uma grande reunião dos príncipes, e o seu próprio irmão Agamenon  foi eleito "soberano senhor de todos os gregos" e chefe deles em uma guerra  contra os troianos pra resgatar Helena. Quando houve o casamento de Helena e Menelau, os príncipes gregos tinham prometido defender a formosa Helena se alguma alguma vez isso fosse preciso. 
                  Em seguida a história conta-nos como os gregos se prepararam para a guerra, como foi passada a revista ao exército, e como se aprontaram os barcos para o transporte dos soldados. Fala também dos muitos guerreiros celebres que iam tomar parte na guerra. Entre todos o primeira era Aquiles,  o mais valente dos gregos; e havia também o Ulysses, o mais atilado; ao passo que Nestor era o mais velho e o mais experiente de todos. 
                   Quando tudo estava pronto, o grande exército navegou para Troia, e, desembarcando na costa, logo cercou a cidade. Dez longos anos durou esse cerco; houve batalha após batalha, e também combates singulares entre os chefes, mas nenhuma vitória foi decisiva. 
                   Já haviam decorrido nove anos quando começaram dissenções  entre os próprios gregos. Surgiu, então, uma grande questão entre Agamenon e Aquiles a proposito de uma coisa insignificante - por um escravo, que tinha sido dado a Aquiles, ter sido levado por Agamenon. Como resultado desta questão Aquiles retirou-se de sua tenda  não quis mais apoiar Agamenon  em nenhuma das escaramuças que a seguir se deram entre gregos e troianos. Tomando coragem, porque Aquiles já não aparecia a combater, o troianos começaram a apertar os sitiantes. Receando que os troianos pudessem chegar mesmo à vitória, o nobre grego Patroclo, o amigo mais querido de Aquiles, envergou a armadura daquele grande guerreiro, e mais uma vez comandou os gregos contra os troianos. Fê-los recolher-se novamente à cidade, mas ficou mortalmente ferido. 
                  Aquiles ficou inconformado com a morte de seu querido amigo. Agora, mais do que nunca, tinha motivações para fazer a guerra ao inimigo que matou Patroclo. Envergando uma nova armadura, que Vulcano fizera para ele, sai para vingar a morte de seu amigo e defronta-se com Heitor, o mais bravo soldado de Troia. Dá-se então o maior combate desta longa guerra. Heitor foi logo abatido por Aquiles. Cheio de cólera, amarra o cadáver do príncipe troiano e com ele desfila arrastando-o três vezes em volta da cidade antes de entregá-lo a seu pai, que o transporta para dentro dos muros de Troia, onde o herói morto é pranteado por seu pai,  Hercuba, sua mãe Andromacha,  sua mulher,pela cativa Helena, e por todos os habitantes da cidade. Grandes  exéquias são feitas ao herói troiano: 
                   Praticai, troianos, o que  os ritos fúnebres pedem, abatei as florestas para lhe erguer uma pira. Durante doze dias, não temei nem inimigos nem surpresas:  Aquiles concede estas honras ao morto". 
                  Assim manda Priamo, o rei, e com uma breve descrição das honras  fúnebres prestadas ao herói morto finaliza o grande poema que tem sido o modelo de quantas  epopeias do tipo clássico se escreveram no mundo entre as quais se salienta a "Eneida" de Vigílio e os "Lusíadas" de Camões. Não foi este, é claro, o fim da guerra. O objeto  principal do poema é a ação de Aquiles durante o cerco e não a história completa da guerra. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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AS ESTRANHAS AVENTURAS DE ULYSSES 
                  Depois da guerra de Troia os gregos regressaram à pátria, mas Ulysses estava fadado para viajar muitos anos antes de voltar a ela, e a "Odisseia" contém as histórias das suas aventuras durante esses anos. O nome grego de Ulisses é "Odysseu", e portanto a palavra "Odiseia" quer dizer respeito de "Odysseu". 
                  Quando os gregos largaram da costa da Ásia Menor para voltar às suas formosas terras, nenhum dos príncipes tinha mais empenho de regressar à pátria do que o esperto e valoroso Ulisses. Mas, apesar de todos os esforços dos seus marinheiros, ventos contrários levaram as suas naus para longe das ilhas da Grécia. 
                  Em casa sua mulher, Penélope, e seu filho Telêmaco, estavam à sua espera, mas tiveram que esperar durante dez longos anos depois da guerra de Troia, e durante esses anos o viajante teve vinte aventuras. Podemos mencionar aqui apenas algumas delas. 
                  Em vez de serem levados na direção da Grécia, os navios de Ulisses foram arrastados pela cota da Ásia Menor, e, apertados pela fome, os seus homens viram-se obrigados a desembarcar e atacar os habitantes d'uma pequena vila, que fugiam diante deles. Os gregos, tendo bastante o que comer e que beber, começaram a divertir-se. No entanto,  os habitantes voltaram e atacaram-nos, matando mais da metade dos soldados que tinham desembarcado. Os outros, com muita dificuldade, conseguiram chegar aos seus navios. 
                Ulisses e aqueles dos seus homens que haviam escapado desembarcaram depois na ilha que hoje chamamos de Sicília, e por ali ficaram até chegarem a um grande caverna. Nessa caverna havia grandes talhas de leite, e o lugar tinha outros sinais de ser habitado.  Era, na verdade, a casa de um daqueles gigantes fabulosos que, como os deuses e as deusas destes contos antigos, existiam  apenas na imaginação do povo daquele tempo. O gigante chamado Polyphemo, e monstro mais feio ou mais cruel seria difícil  de imaginar. Tinha só um olho, no meio da testa. Era o chefe de uma raça de gigantes chamados ciclopes que, como ele, tinham apenas um olho no meio da testa. 
                 Nesta tarde, Ulisses e os seus ficaram à espera na caverna quando o gigante chegou, levando diante de si um rebanho de carneiros gigantescos, e arrastando até chegar á entrada da caverna, uma pedra tão grande nem vinte homens poderiam movê-la. Imediatamente Ulisses aproximou-se dele e, oferecendo-lhe um odre de vinho, pediu misericórdia para si e para os seus companheiros. O gigante bebeu o vinho e gostou muito dele. Prometeu a Ulisses uma dádiva em troca da sua; mas como logo a seguir tratou de comer dois dos gregos, ficou bem claro que não havia misericórdia a espertar daquele monstro. 

                Polyphemo pede então a Ulisses que lhe diga o seu nome; mas o príncipe é esperto de mais para que lhe diga quem é, e assim responde: - "Ninguém é o meu nome. Desde a infância que o tenho, e por ele me tratam meus pais e meus amigos". 
                 E o gigante diz: 
                 - "Bem, recebe então a dádiva prometida, o bem te faz a minha hospitalidade. Quando todos  os teus tiverem sentido a minha força, Ninguém será o último que comerei". 
                 Passam dois dias de terror, e cada dia o gigante come dois homens da comitiva de Ulisses, antes que o príncipe astuto descubra uma  maneira de escapar. À sétima noite, quando Polyphemo está estendido a dormir profundamente no chão, Ulisses aguça um grande pau  e, ajudado pelos seus homens, enfia-o no  olho do gigante, cujos rugidos de dor acordam outros dos habitantes fabulosos da ilha, mas esses não podem entrar por causa da pedra que lhe veda o acesso. Por isso gritam de fora ao seu chefe, perguntando quem o está ferindo, e ele lá de dentro responde: 
                - "Amigos, Ninguém me mata; Ninguém, na hora do meu sono, me oprime com um poder feito de astúcia". 
                E a isto respondem seus fiéis companheiros: 
                - "Se ninguém o magoa, a não ser a mão divina, não tens remédio senão resignar-te". E vão embora deixando-o só. 
                Mas, nem todos os gregos juntos são capazes de afastar a pedra que bloqueia a entrada, e por isso terão de esperar até à madrugada, quando o gigante, agora cego, empurra a pedra para o lado para que o rebanho dos seus grandes carneiros possa sair. Ele próprio senta-se á entrada, para evitar que os gregos fujam. Mas Ulisses, com a sua astúcia, já tinha previsto isto, e fez que cada um dos seus homens fosse atado contra a barriga d'um carneiro, de modo que os animais, ao passarem a porta, levam todos os gregos para fora. Ulysses e os tripulantes escapam para os navios, e assim acaba a terceira das suas maravilhosas aventuras. 
                 Uma aventura, ainda mais extravagante sucede aos gregos quando, no decurso de sua peregrinação, caem nas mãos de uma feiticeira chamada Circe, que lhes dá a beber um vinho que os converte em animais. Mas Ulisses é astuto demais para cair em qualquer armadilha, e recusa-se a beber o vinho. Ainda que não o fez, porque a sua astúcia faz com que a feiticeira tenha admiração por ele, e por sua causa faz voltar o companheiros do herói às suas formas normais. 
                 Muitas das aventuras de Ulisses são cheias de significação, e ensinam-nos muitas coisas, se nós as quisermos aprender. Uma das mais interessantes  é a aventura das sereias, donzelas formosíssimas que, sentadas ao longo da costa, cantam com tal suavidade que tentam os marinheiros a vir à terra.  mas estas sereias são, na realidade, fúrias que matam os homens  que veem à terra, e espalham seus ossos  ao longo da costa.  Aqui, mais uma vez, foi a astúcia e previsão de Ulisses que salvou os tripulantes. Ele pôs cera nos ouvidos dos marinheiros, para que não pudessem ouvir o canto das sereias, e assim passar sem perigo pela costa onde elas estavam. 
                 A aventura seguinte é a de navegar entre um rochedo chamado Scylla e um terrível redemoinho chamado Charybdes, o que Ulisses conseguiu fazer. Mas temos que pôr a estas aventuras e mostrar Ulisses desembarcando são e salvo nas costas áridas de Ithaca, a ilha de que era rei. 
                  Passaram-se vinte anos desde que Ulisses partiu para guerrear contra os troianos, e durante todo esse tempo, sua mulher Penélope, célebre por sua beleza e bondade, ficou aguardando pacientemente pela volta do marido. Muitos outros homens, anciosos por casar com ela, vinham ter ao palácio, dizendo: "Ulisses morreu; se não, já teria voltado". Mas ela a todos recusou, dizendo que só tornaria a casar quando tivesse fiado uma mortalha; para nunca concluir seu trabalho, ela tecia durante o dia e à noite desfazia todo o trabalho, e dessa forma a mortalha nunca ficava pronta. 
                  Quando Ulisses voltou ao palácio, ali estavam alguns dos príncipes pretendentes ao casamento com Penélope. Salvo sua velha ama e seu cão, já ninguém mais conhecia o rei que tanto tinha mudado nos vinte anos de ausência. Mas Ulisses disse quem era a seu filho  Telêmaco, e juntos mataram os príncipes que tinham estado a apoquentar Penélope. Só então Ulisses procurou sua mulher que, a princípio, mal podia acreditar que seu marido voltara, e ficou cheia de alegria ao ver seu senhor novamente a seu lado, são e salvo. 
O CÃO DE ULISSES
                 Em muitas histórias Ulisses foi chamado de Odisseu e está é uma história sobre seu fiel cão, o único que nunca o esqueceu. 
                 Antes de Odisseu (Ulisses) partir de sua casa para lutar nas guerras de Troia, nasceu um cãozinho que cresceu e se tornou um grande e lindo galgo. Odisseu adorava seu belo cão, deu-lhe o nome de Argus,  e seu amor era muito bem retribuído pelo animal. O cão ladrava e mostrava-se muito satisfeito sempre que Odisseu chegava de algum lugar. Passava seus dias fazendo-lhe festas, abanando o rabo e mostrando seu profundo amor ao seu dono. Sempre que o herói estava em casa, passavam o tempo todo juntos. Isso aconteceu até sua partida. 
                  Odisseu foi para a guerra e ficou muitos anos ausente. 
                   O fiel cão ainda era jovem quando Odisseu foi para a guerra só retornando após dez anos e, mesmo assim continuou viajando durante muitos anos. Argus envelheceu, mas nunca esqueceu seu dono e nem deixou de esperar por sua volta. 
                   Quando, emfim, chegou de Itaca estava velho e muito mudado com o sofrimento que tinha passado durante aqueles anos de luta constante. Dirigiu-se ao palácio, onde ninguém o reconheceu, mas Argus estava junto ao portão à sua espera; quando viu Ulissis e ouviu sua voz, abanou o rabo e, usando suas últimas forças, foi ao seu encontro; com dificuldade, levantou a cabeça, como se quisesse despedir-se, e morreu. Esse foi o fim do fiel companheiro e único amigo que o reconheceu.
Nicéas Romeo Zanchett 
                   
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O ESTRATAGEMA DO CAVALO DE PAU 
Quanto à guerra de Troia acabou, ao fim de dez anos, com um estratagema de Ulisses. Os gregos construíram um enorme cavalo de pau, esconderam soldados lá dentro, e fingiram retirar-se para navios. Os troianos vieram buscar o cavalo e  transportá-lo para dento da cidade, e, como a porta era muito pequena tiveram que demolir uma parte do muro. De noite os gregos voltaram, e os seus amigos saíram do cavalo e, enquanto os troianos dormiam,  abriram-lhes as portas da cidade. E assim foi a cidade tomada pelos gregos.
                    Entre os príncipes troianos que tomaram parte importante na grande guerra, havia um chamado Enéas,  e quase oitocentos anos depois de Homero ter escrito aqueles grandes poemas em louvor  de Aquiles e de Ulisses, Virgílio, o poeta latino, seguiu o estilo de Homero compondo o grande poema  da "Eneida", que quer dizer "com respeito a Enéas". O verdadeiro fim do poema era agradar ao povo latino e aos seus senhores, mostrando como os seus reis descendiam deste grande príncipe troiano, a história de cuja vida cessara já de ser verídica, e se converter, na sua maior parte, em pura fábula.  
                    Vamos entender agora como foi que os gregos conseguiram destruir a cidade de Ilion, ou Troia. Também foi devido à astúcia de Ulisses que o grande cerco acabou com uma vitória. Foi ele que fez com que se construísse um enorme cavalo de madeira, dentro do qual foram escondidos um certo número de soldados gregos. Esta esquisitíssima estrutura foi rodada até às portas de Troia e deixada ali, como se fosse um presente. Depois, todos os soldados gregos voltaram aos seus barcos e fingiram remar para longe, como se fossem embora, fartos de tanta guerra. 
                    A curiosidade dos troianos diante de tão estranha estrutura de madeira, foi irresistível; por isso saíram, e com muito custo, puxaram o cavalo de madeira para dentro dos muros da cidade. De noite os soldados gregos, que estavam lá dentro, saíram e apanharam os troianos de surpresa; ao mesmo tempo que a maioria do exército, que tinha fingido  afastar-se, voltava e atacava a cidade. Em pouco tempo Troia estava em chamas, e os seus habitantes mortos ou em fuga. A bela Helena, causa de toda esta guerra, foi restituída a Menelau, seu marido, e assim acabou o famoso cerco. 
                     A história de "Eneida" não começa por nos contar isto, mas abre com a descrição do terrível temporal que apanha a frota de Enéas que, depois da queda de Troia, de onde tinha conseguido escapar, levando o pai às costas, mas perdendo a mulher, tinha reunido muitos homens  e com eles havia embarcado, dirigindo-se, ao fim de sete anos, para as costas da Itália. 
                     Neste grande temporal muitas das naus naufragaram, mas a sua e mais seis outras chegaram salvas a um porto da África, e ele encontra-se na rica e maravilhosa região de Cartago, cuja rainha, a formosa Dido, conta a história da queda de Troia e do cavalo de madeira.  Descreve as várias viagens que fez depois da sua fuga e até à sua chegada a Cartago. Dido apaixona-se pelo nobre príncipe  e quer casar com ele, mas avisam-no que abandone Cartago, e não há súplicas da rainha que o façam desistir. Cheia de desespero, ela acaba matando-se. 
                     Depois de seguir para a Cecilia, onde celebra a memória do seu pai, supõe-se que ele visitara os Campos Elísios, para onde os antigos julgavam que as almas iam  depois da morte; ali encontra o pai, que lhe mostra a raça de heróis que descenderá de Enéas e governará o povo latino. 
                     Enéas parte e chega à terra chamada Lácio, ou seja a Itália, cujo rei, Latino, o recebe muito bem e lhe promete em casamento a sua filha única, Lavínia, herdeira do trono.  Mas outro príncipe, chamado Turno, rei dos rútulos, um povo latino, também a quer para mulher, e nessa pretensão tem o apoio da mãe dela. Rebenta, portanto, uma guerra entre os troianos e rútulos, na qual há muitos combates emocionantes, e para o fim parece que os troianos virão a ser completamente derrotados na ausência de seu chefe. Mas Enéas, que recebeu um escudo feito por Vulcano, o mesmo deus da fábula que fizera a armadura de Aquiles - escudo esse onde estão representadas as glórias e os triunfos  futuros do povo latino, ou romano - volta ao campo de batalha  a horas de mudar a sorte da guerra.  
                      Na última batalha de todas, combina-se um combate singular entre Enéas e Turno, mas a gente de Turno consegue ferir o príncipe troiano. Porém a mãe deste, Vênus, uma das deusas em que os antigos romanos criam, prepara uma flor de Dictamo, um medicamento maravilhoso,  e o traz ao filho, envolvendo-se numa névoa escura; aplicado o remédio à ferida, logo o sangue estanca e se restauram as forças de Enéas, que volta imediatamente ao combate e obriga Turno a um duelo. A espada deste quebra-se, ele foge, e é perseguido por Enéas, que por fim o mata.  
Nicéas Romeo Zanchett 
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domingo, 1 de setembro de 2013

A PRIMEIRA HISTÓRIA ESCRITA NO EGITO


A PRIMEIRA HISTÓRIA
Escrita no Egito pelo Escriba Annana
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                 A primeira história do mundo que chegou até nós foi escrita pelo Escriba Annana.
Trata-se de um papiro, amarelado e carcomido, coberto de misteriosos caracteres, traçados a mais de trinta e três  séculos. Pode ser visto no British Museum (Museu Britânico).  Foi lido, decifrado e impresso, e no seu conteúdo tanto tempo escondido na noite do tempo, foi trazido para a luz clara e fraca do dia. É, portanto, um documento de inestimável valor para os verdadeiros amantes da história humana e da literatura  mundial.
                  Apesar de todos  os museus da Europa terem os seus rolos de papiros, em nenhum deles existia uma única obra de imaginação na forma de conto ou romance, até que no ano 1852 esta lacuna foi finalmente preenchida. Nesse ano, Mrs. D'Orbiey, uma senhora  inglesa, viajando na Itália, teve a ventura de adquirir esse único papiro. Quando voltou, submeteu-o à inspeção de um  dos primeiros egiptólogos, o Visconde Rougé, então superintendente da coleção egípcia de Paris. Este logo reconheceu o valor da descoberta e descreveu o caráter geral do papiro. Numa breve notícia sobre ele, que foi impressa na "Revue Archeologique", chamou a atenção dos sábios franceses para esta notável produção.  
                   A história foi escrita em "in usum Delphini" para o príncipe Seti Mernephtah, filhodo faraó Ramsés Miamum, e era considerada como uma das obras primas da literatura egipciana. No final do documento está escrito: "Foi composto pelo escriba Annana, possuidor deste rolo. Que Deus Thoth livre de destruição todas as oras contidas neste rolo."  
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OBSERVAÇÃO: Os algarismos e números de páginas representam as linhas e as páginas de um papiro. 
Observe-se que trata-se de uma história adaptada à nossa linguagem. Portanto, há certa dificuldade de ortografia e ordem de literária.
A HISTÓRIA 
Pag. 1
                  1. Eram dois irmãos, filhos da mesma mãe e do mesmo pai. Anepu era o nome do mais velho, Batau o do mais novo. Anepu tinha casa e mulher; 
                  2. Mas seu irmão mais novo ao pé dele era uma criança, e fazia-lhe fatos para vestir. Ele ia para o campo com os bois 
                  3. (Só quando) se achava á lavoura ele era obrigado a auxiliar  todos os trabalhos do campo. E vede! seu irmão mais novo    
                  4. Era um bom trabalhador; não havia nenhum como ele em toda a terra... Logo que se passavam muitos dias,o irmão mais novo lá estava
                  5 - Com os seus bois, todos os dia, e todas as tardes os recolhia à casa. E, carregado. 
                  6 - Com todas as espécies de ervas do campo, voltava à casa, para as dar ao seu (gado). E o irmão mais velho ficava com
                  7. Sua mulher, para beber e comer, enquanto o irmão mais novos ia deitar-se para a estrebaria com os bois.
                  8. E, quando a terra se iluminava e um novo dia alvorecia e a lâmpada (se apagava), então aparecia ele diante de seu irmão mais velho, e levava
                  9. O pão para o campo, para dar aos trabalhadores, e comê-los com eles. Depois andava com os bois
                10. Que diziam sempre onde estava a melhor pastagem, e ele ouvia todas as suas palavras na maior das atenções. E lá os levava para o sítio
 Pag. 2 
                  1. Onde havia boa pastagem, com que eles se deleitavam. E os bois que ele seguia eram muito nobres; e multiplicavam-se
                  2. Extraordinariamente. Era então o tempo da lavoura. E seu irmão mais velho veio falar com ele e disse: Tomemos a junta, 
                  3. Porque podemos lavrar; pois os campos tornaram a aparecer (depois da inundação do Nilo), e a estação é própria para a lavoura.  Por conseguinte, vem
                  4. Para o campo com as sementes, e nós trabalharemos com o arado. E seu
                  5. Irmão mais novo fez o que lhe tinha dito... E quando a terra se iluminou
                  6. E despontou um novo dia, foram logo para o campo com a sua (junta), e fartaram-se de trabalhar no campo, e
                  7. Ficaram cheios de alegria pela realização de seu trabalho... Então veio a suceder 
                  8. Depois de muitos dias que, quando estavam no campo, lhes faltavam as sementes, e o mais velho mandou 
                  9. Seu irmão, dizendo: Vai depressa buscar sementes à aldeia. E seu irmão mais novo achou a mulher
                 10. De seu irmão mais velho a entrançar o cabelo. Dirigiu-se a ela, dizendo:   Levanta-te, e dá-me sementes;
Pag. 3
                   1. Porque tenho de ir já para o campo, visto que meu irmão me disse para voltar imediatamente. Então ela disse-lhe: Vai
                   2. Abrir o celeiro e toma o que te apetecer, porque (se eu fosse) o cabelo destrancar-se-me-ia todo. Enquanto foi o jovem 
                   3. À sua estrebaria e pegou num grande cesto, porque queria levar muito grão; e carregou com 
                   4. O trigo e a cevada, e lá foi. Ela disse-lhe: Quanto levas/ E ele respondeu-lhe: Três medidas de cevada, 
                   5. E duas medidas de trigo; ao todo cinco medidas, que levo no braço. Assim ela lhe disse: (Nesse ponto, a história conta como esta falsa e licenciosa mulher qual a mulher de Putifar, humilhada na sua perversidade, se vingou do mancebo, acusando-o falsamente; e para dr uma maior aparência de verdade à denúncia, feriu-se a si mesma, e pretendeu que fora o irmão de seu marido quem lhe fizera as feridas). 
                    1.... À tarde voltou o marido para casa, 
                    2.  Segundo o seu costume de todos os dias, e ao entrar em casa, encontrou sua mulher prostrada, como se lhe tivessem feito mal. 
                    3. E ela não lhe deu água para lavar as mãos, como  era seu costume, nem acendeu a lâmpada, e a casa estava toda às escuras. E continuava estendida
                    4. Com o corpo descoberto. E seu marido disse-lhe: "Com quem falaste tu? levanta-te." Então ela respondeu-lhe: "Com ninguém, a não ser com teu irmão mais novo."... Então o irmão mais velho tornou-se 
                    5. Como uma pantera, e afiou o machado, e tomou-o na mão. E pôs-se atrás da porta
                    6. Da estrebaria de seu irmão mais novo, para o matar quando recolhesse à tarde, quando trouxesse os bois para a
                    7. Estrebaria. E quando o sol se pôs, o mancebo apanhou todas as espécies de ervas de campo conforme costumava fazer todos os dias, 
                    8. E dirigiu-se para a estrebaria, e a primeira bezerra entrou no curral. E ela disse-lhe: "Acautela-te com teu irmão mais velho que está aqui
                    9. Com o machado para te marar. Afasta-te dele." E ele ouviu as palavras da sua primeira bezerra.
Pag. 6
                    1. Entrou a segunda e falou-lhe do mesmo modo. E ele olhou por debaixo da porta da sua estrebaria, 
                    2. E viu logo as pernas de seu irmão mais velho, que estava atrás da porta com o machado na mão. 
                    3. E deitou o fardo ao chão e fugiu a toda a pressa e seu
                    4. Irmão mais velho foi atrás dele com o machado na mão. E o irmão mais novo dirigiu a seguinte prece a deus solar, Harmachis:
                    5. "Generoso Senhor, tu és aquele que apartas a mentira da verdade." E o deus Sol parou
                    6. Para ouvir todas as suas lamentações, e deu origem  a um enorme rio que apareceu entre os dois irmãos, e que estava
                    7. Cheio de crocodilos. E um deles pôs-se numa das margens, e o outro na outra margem. 
                    8. Seu irmão mais velho atirou duas vezes o machado, mas não o pode matar. Assim foi. E seu
                    9. Irmão mais novo gritou-lhe da outra margem: "Fica ai, e espera até que a terra se ilumine e o orbe solar apareça acima do horizonte, porque então quero
Pag. 7
                    1. Aparecer-te diante dele, a fim de que saibas toda a verdade; porque nunca te fiz mal algum. 
                    2. Não quero ficar no lugar em que estás, e vou à montanha dos cedros." Quando a terra se iluminou e despontou o dia, então
                   3. O deus solar Harmachis apareceu, e eles olharam um para o outro. E o mancebo disse a seu irmão mais velho: 
                   4. "Por que é que me persegues e me queres matar injustamente? Não houves o que minha boca profere, isto é, que sou em verdade o teu irmão mais novo, e 
                    5. Tu foste para mim como um pai e tua mulher como uma mãe." (Veio-lhe então ao espírito a acusação que lhe tinha sido feita, e demonstrou ao irmão a sua inocência. A história continua -) 
Pag. 8
                    1. Mas na alma de seu irmão ia uma perturbação dolorosa. E ali ficou a chorar e a lamentar-se, e para mais não podia ir ter com seu irmão mais novo por causa dos crocodilos. 
                    2. E seu irmão mais novo gritou-lhe "Tu estás projetando algum crime, quando devia haver só  bem na tua alma.  Mas eu quero dizer-te uma coisa que tu deves fazer. Vai para casa
                    3. Guarda o teu gado, porque não morarei mais onde tu vives, e vou para a montanha dos cedros. E quando vieres procurar-me, deves fazer o que te vou dizer. 
                    4. Fica pois sabendo que é preciso que eu me separe da minha alma e que eu possa colocá-la na flor mais alta dos cedros. E logo que se cortar o cedro, ela cairá no chão. 
                    5. Quando vieres buscá-la, levarás sete dias a procurar a minha alma, sem o que não encontrarás. Depois coloca-a num vaso com água fria. Desta maneira voltarei à vida e responder-te-hei
                     6. A todas as tuas perguntas, para te ensinar o que deves fazer de mim... Arranja também uma garrafa com cozimento de cevada, cobre-a com os pés, e não te demores mais." E ele foi
                     7. Para a montanha dos cedros, e seu irmão mais velho tomou para casa. Logo que entrou foi matar 
                     8. A mulher, lançou-a aos cães, e sentou-se a chorar por seu irmão mais novo. Depois de muitos dias o irmão mais novo veio para a montanha dos cedros, 
                     9. E ninguém estava com ele; e passou o dia a caçar as bestas feras da terra, e à noitinha voltou à montanha para ficar debaixo do cedro, em cuja flor mais de cima jazia a sua alma. Passados muitos 
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                    1. Dias construiu para si uma cabana sobre a montanha dos cedros, 
                    2. E encheu-a de todas as boas coisa. Quando ia a sair da cabana, deu com os nove deuses,
                    3. Que tinha vindo satisfazer as necessidades de toda a terra. E os deuses falaram uns com os outros (e) disseram-lhe: 
                    4. "Ó Batau, novilho dos deuses, por que estás tu assim sozinho, porque desertaste da tua terra? Foi por causa da mulher de Anepu, teu irmão mais velho? 
                    5. Mas olha, essa mulher está morta. Volta para a casa de teu irmão; ele responder-te-a todas as perguntas." E todos eles sentiram perturbar-se o coração
                    6. Com a sorte do mancebo. Então falou o deus solar Hermachis a Chnum: Arranja uma mulher para Batau 
                    7. Para que ele não viva sozinho. E Chnum fez uma mulher, e deu-lha, e era a mais bela de todas as mulheres 
                    8. De todo o mundo; havia nela toda a juventude. E os sete Hathors vieram vê-la, e disseram numa só
                    9. Voz: "Ela terá uma morte violenta." E ele amou-a com todas as veras de sua alma, e ela sentou-se em sua casa, enquanto ele levava o dia
Pag. 10
                   1. A caçar as bestas feras da terra, e lhe trazia depois a seus pés a presa que fizera. E dizia-lhe: "O Mar ha de vir
                   2. E há de levar-te; pois eu não posso livrar-te dele...porque a minha alma jaz
                   3. No cimo das flores do cedro. Se alguém a encontrasse, eu tinha de lutar para a obter." E abriu-lhe todo o seu coração.
                   4. Passados muitos dias Batau foi à caça, como era seu costume todos os dias. 
                   5. E sua mulher foi também passear para debaixo dos cedros que estavam ao pé de sua casa, quando, ai! O Mar a viu
                   6. E cresceu atrás dela, enquanto ela fugia dele a toda a força e saltava e se metia dentro de casa. 
                   7. mas o Mar gritou ao Cedro: "Oh! como eu a amo!" Então o Cedro deu-lhe um anel de cabelo da jovem esposa de Batau. E o
                   8. Mar levou-o para o Egito; e depositou-o no sítio onde estavam lavando as lavadeiras da casa do Faraó E a fragrância 
                   9. Do anel de cabelo comunicou-se à roupa do Faraó, e levantou-se uma contenda entre as lavadeiras
                  10. Do Faraó, porque elas diziam; "A roupa do Faraó tem a fragrância do óleo de unção" e todos os dias, por causa disso, se levantava uma contenda entre as lavadeiras. 
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                    1. E elas não sabiam do que se tratava. Mas o chefe das lavadeiras do Faraó veio ao mar, porque lhe dava que fazer
                    2. Aquela contenda de todos os dias sobre o mesmo assunto. E pôs-se na praia mesmo em frente do anel de cabelo
                    3. Que estava no mar. Depois baixou-se, e apanhou o anel de cabelo; e viu que ele tinha um aroma delicadíssimo. 
                    4. E levou-o ao Faraó. Foram chamados imediatamente os sábios escribas de Faraó. E eles disseram-lhe "Isto é um anel
                     5. De uma filha do deus solar, e nela existe tudo o que é divindade. Toda a terra lhe deve homenagem. Por isso manda mensageiros
                    6. A todas as terras, para a trazer, mas o mensageiro que for às montanhas de cedro deve ir acompanhado de muita gente, 
                    7. Para que ele no-la possa trazer." E o Rei disse: "Acabaste de falar numa coisa realmente boa." E eles partiram. Passados muitos das
                    8. Veio a gente que tinha ido às (diferentes) terras trazer notícia ao Rei, mas não vieram 
                    9. Os que tinham ido às montanhas de cedro, porque Batau os tinha morto, e deixado apenas um só, para contar ao Rei o que se passara. 
                  10.  Então o rei mandou muita gente, muito guerreiros a pé e a cavalo, para lhe a trazerem.
Pag. 12 
                   1. E ia com eles uma mulher. Levava todas as espécies de vestidos de mulher. E veio então a mulher (de Batau) para
                   2. A terra do Egito e todos se regozijaram por causa dela. E o Rei logo a amou apaixonadamente. 
                   3. E a levantou até a mais maravilhosa beleza. E disseram (à mulher de Batau) que ela devia revelar a história
                   4. De seu marido. Então ela disse ao Rei: "Manda decepar o cedro para que ele morra." Então
                   5. Foram homens com machado para decepar o cedro.  E chegaram. 
                   6. Ao pé do cedro. e cortaram-lhe a flor no meio da qual jazia a alma de Batau. 
                   7. Então ela caiu no chão e ele morreu imediatamente. Quando a terra se iluminou, e um novo dia alvoreceu, foi
                   8. Cortado todo o cedro. E Anepu, irmão mais velho de Batau, veio á sua casa, e 
                   9. Pôs-se a lavar as mãos. E tomou um vaso com cozimento de cevada, que ele tapou com os pés, 
                 10. E outro com vinho, que tapou com barro e pegou no seu cajado
Pag. 13
                   1. E nos seus sapatos, no seu fato e na merenda, e dirigiu-se
                   2. À montanha dos cedros. E foi à cabana do seu irmão mais novo, e encontrou seu irmão mais novo estirado 
                   3. Sobre uma esteira. Estava morto. E começou a chorar quando viu que seu irmão jazia como um morto. Então 
                  4. Foi procurar sobre o cedro a alma de seu irmão mais novo, debaixo do qual seu irmão mais novo se deitava à noitinha. 
                  5. E andou por ela durante três anos sem a encontrar. E quando chegou o quarto ano, a sua alma suspirou por voltar ao Egito. 
                  6. E disse: "Partirei amanhã de manhãzinha". Tal era sua tensão. Quando a terra se iluminou, e um novo dia alvoreceu, encaminhou-se 
                  7. Para o cedro, e levou todo o dia à procura da alma. E quando voltava para casa, ao anoitecer, e pela ultima vez relanceou os olhos em sua volta para ver se a encontrava, 
                  8. Deparou com um fruto, e quando voltava com ele para a cabana, viu que era a alma de seu irmão mais novo. Então tomou
                  9. O vaso com água fria, pôs (a alma) lá dentro, e foi-se sentar, como era seu costume todos os dias. Logo que se fez noite, 
  Pag. 14 
                   1. A alma absorveu a água, e Batau pôs-se a mexer com todos os seus membros e a olhar para seu irmão mais velho. 
                   2. Mas o seu coração não tinha movimento. E Anepu, seu irmão mais velho, tomou o vaso de água fria, onde (estava)
                   3. A alma de seu irmão, deu-lha de beber, - ai está! - a alma foi colocar-se no antigo lugar. 
                   4. Então ficou o que era d'antes. Abraçaram-se. 
                   5. E falaram um com o outro. E Batau disse a seu 
                   6. Irmão mais velho: "Olha, eu quero transformar-me num novilho sagrado com todos os sinais sagrados; ninguém saberá o mistério, e hei de escarranchar-te nas minhas costas. E logo que o sol nasça, havemos de estar onde está minha mulher.  Dize-me se me queres levar até lá; porque será belamente recebido como é natural. E terás
                   7. Muita prata e muito ouro, se me levares ao Faraó, porque serei muito apreciado.
                   8. E choverão sobre mim aclamações de alegria por sobre a terra.  Mas vai agora à tua aldeia. Quando a terra se iluminou 
Pag. 15 
                   1. E um novo dia alvoreceu, tomou Batau a forma que tinha descrito a seu irmão. E Anepu, 
                   2. Seu irmão mais velho, montou sobre as suas costas quando o dia despontava. E quando chegou junto ao lugar, 
                   3. Informaram o Rei que, quando o viu, ficou louco de alegria e deu em sua honra
                   4. Um grande festim, maior do que tudo o que se pode contar. E por causa dele foi uma alegria doida por toda a terra. E 
                   5. Trouxeram prata e ouro a seu irmão mai velho, que habitava na sua aldeia, e deram-lhe muitos criados. 
                   6. E muitas (outras) coisas, e Faraó estimou-o muito, mais do que a qualquer outro homem da terra. 
                   7. Depois de passados muitos dias o novilho foi para o santuário e ficou 
                   8. Exatamente no sítio onde estava a bela (sua mulher). Então disse-lhe: "Olha para cá, eu estou ainda vivo, por minha fé." E
                   9. ela disse: "Quem és tu?" e ele respondeu-lhe: "Sou Batau; foste tu que
                  10. me fizeste morrer quando ensinaste ao Faraó onde eu estava e disseste para deceparem o cedro. 
Pag. 16
                     1. Olha para mim: eu estou ainda vivo, por minha fé, somente o estou sob a forma de um novilho." Encheu-se sua formosa mulher de um grande medo quando ouviu isto
                     2. De seu marido. E foi para o santuário, e o Rei sentou-se ao seu lado. 
                     3. E foi belamente tratado pelo Rei. E disse-lhe: 
                     4. "Jura-me, por Deus, que farás tudo o que eu te pedir". Prometeu-lhe ele fazer tudo quanto ela lhe pedisse, e ela acrescentou: "Deixa-me comer o figado dese novilho, 
                     5. Porque tu não precisas dele." Assim lhe falou.Ficou ele muito aflito com o que ela lhe tinha dito, e a alma
                     6. Do Faraó sofria horrivelmente. Quando a terra se iluminou, e mais um dia alvoreceu, fizeram logo uma grande festa
                     7. Para oferecer sacrifícios ao novilho. Mas então um dos principais criados do Rei foi matar o novilho. E 
                     8. Veio a suceder quando iam matar, o povo rodeou-o. E quando lhe deram uma pancada no pescoço
                     9. Coiram dois pingos de sangue no sítio onde estavam os umbrais do palácio do Rei; uma caiu de um lado
                   10. da porta do faraó, e a outra do outro lado. E saíram dele duas belas árvores persas.
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                     1. E cada uma delas vivia independente da outra. Então foram dizer ao Rei: "Duas lindas 
                     2. Árvores persas, para ventura do Rei, surgiram esta noite no sítio do portão grande do palácio real e há uma grande alegria
                     3. Por causa disso em toda a terra. Passados muitos dias, o Rei
                     4. Adornou-se com seu colar de lápis-lazúli e pôs ao pescoço uma bela grinalda de flores. Ele ia num carro dourado. 
                     5. E quando veio para o palácio, reparou nas árvores persas. E sua formosa mulher fora também num carro atrás do faraó. 
                     6. E o Rei pôs-se debaixo de uma das árvores persas, mas uma voz disse à sua mulher: "Ah! falsa! Eu sou
                     7. Batau; estou ainda vivo, transformei-me. Tu ensinaste ao faraó onde eu habitava, 
                     8. Para que me matassem; eu era o novilho, e foste a causa da minha morte." Passados alguns dias
                     9. A formosa mulher estava nas boas graças do Rei, e dirigiu-se-lhe assim:
                   10. "Jura-me que farás o que eu te disser." Então ele prometeu fazer
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                     1. Tudo que ele quisesse, e disse-lhe: "Manda cortar as duas árvores persas, que belas taboas se não hão de fazer dali!"
                     2. E tudo o que ela desejava se fez. Passados alguns dias, o Rei mandou
                     3. Vir esplêndidos operários para cortar as persas do faraó, e a formosa rainha assistia ao espetáculo. 
                     4. E saltou uma lasca de madeira e veio cravar-se na boca da formosa dama. 
                     5. E sucedeu, passados alguns dias, 
                     6. Que ela teve um filho e vieram felicitar o Rei, "Nasceu-te
                     7. Um filho." E ele veio à luz, e deram-lhe uma ama, e mulheres para cuidarem dele; e era 
                     8. Uma alegria por toda a terra. E deram-lhe um festival, e puseram-lhe
                     9 O nome; e o Rei amou-o desde logo com um grande amor; e designou-o
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                     1. Como príncipe de Etiópia. Passados muitos e muitos dias, o Rei fê-lo
                     2. Vice-rei de todo o país. Passados muitos e muitos dias, quando ele já tinha sido
                     3. Vice-rei por muitos anos, morreu o Rei, e o Faraó foi para o céu. 
                     4. E o outro disse: "Vou convocar os mais poderosos e e mais ilustres da corte real; quero fazer-lhes conhecer toda a história. 
                     5. Que aconteceu entre mim e a Rainha." E trouxeram-lhe sua mulher, e ele disse diante deles o que ela era e eles pronunciaram a sua sentença. 
                     6. E trouxeram-lhe seu irmão mais velho, que ele fez vice-rei de todo o território. reinou trinta anos como Rei do Egito.
                     7. Quando acabou de viver esses trinta anos, seu irmão subiu ao trono, mesmo no dia do funeral. 


                      Assim acaba este velho conto de mais de três mil anos. Quantas reflexões ele sugere!
Quantos pontos de contato ele apresenta com os contos e tradições de todos os tempos e de todos os países! Que curiosíssima luz ele projeta sobre os usos e costumes e as opiniões dos antigos egípcios!e, em particular, como traduz uma crença, não só na doutrina de transmigração das almas, como na existência da alma separada do corpo! Se o conto é absolutamente original, se ele foi extraído de origens anteriores, é um ponto de pequena importância; quer ao escriba Annana seja devido o mérito da invenção, quer somente lhe possa ser atribuído o mérito de embelezamento, o interesse é o mesmo. 
                      A simplicidade e frescura, o estilo quase bíblico da narrativa, não pode deixar de impressionar o nosso espírito, mesmo numa difícil, mas inteligente tradução. 
                      O escriba autor era contemporâneo de Moisés, e tal circunstância dá mais um aspecto de interesse à descoberta deste papiro. A semelhança entre algumas partes da narrativa do Gênesis e o estilo do escritor Egípcio pode ser explicada pelo fato de que Moisés foi instruído por homens como Annana e Kagabu de toda a ciência dos egípcios. É bem possível que esta história, este papiro, tenha caído nas suas mãos. Podem os escritos como este ter contribuído para sua educação. Por fim, eles nos levam a crer, mais do que nunca, que o grande legislador judeu tinha se preparado para sua missão na corte do Faraó e nas escolas do Egito. 
                      As coincidências são muitas e não podem serem ignoradas. 
      Nicéas Romeo Zanchett