Nicéas Romeo Zanchett
UM POUCO DA HISTÓRIA DE ISRAEL
David, o segundo Rei de Israel, sucessor de Saul, nasceu em Bethlem no século X antes de Cristo.
Guardava os rebanhos de seu pai, segundo a Bíblia, quando o profeta Samuel o ungiu prometendo-lhe a sucessão de Saul. Vencedor dos Filisteus, tornou-se um grande chefe guerreiro e excitou os zelos e à perseguição de Saul. Depois da morte deste, David veio a ser proclamado Rei das tribos de Israel. Fez da cidade de Sião a capital com o nome de Jerusalém.
Foi, indiscutivelmente, um homem muito inteligente e sábio. Poeta e profeta, deixou-nos o seus Salmos de uma grande inspiração lírica.
Especialmente neste Salmo, podemos ver nitidamente o amor, a inveja, a intriga e o ódio que um povo, já naquela época, dedicava a seu lider. Concluo que o amor de um povo pelo seu lider (político), dura o tempo de sua glória.
Nicéas Romeo Zanchett
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SALMO
Por David - o Profeta -
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Salva-me, Senhor! pereço;
Já vem as águas subindo;
Já me enchem a boca, o peito,
Quase me vou submergindo.
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As ondas encapeladas
Arrojam-me com violência ;
Pregam-me imóvel e fraco
Num lodo sem consistência.
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Vai crescendo a tempestade,
E dá comigo de um salto
No pélago profundo,
Nos abismos do mar alto.
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Trabalho, grito; mas canso;
Minhas faces enrouquecem;
Meus olhos no Céu pregados
Perdem a luz, desfalecem.
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Mais bastos que os meus cabelos
Os meus inimigos são;
São gratuitos seus furores,
Gratuíta sua aversão.
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Cresce a turba dos perversos,
Furiosos me acometem;
Será, pois, justo que eu pague
Os crimes que eles cometem?
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Conheces minhas fraquezas
Meu Deus! e as dos mais viventes
Se acaso tenho delitos
A teus olhos são patentes.
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Mas, Senhor! em mim não cuido
Por causa do meu tormento;
Temo só que outros que esperam
Os assalte o desalento.
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Que dirão se me abandonas?
Deus de Israel! não consintas
Que os que te buscam vacilem,
Temam que em mim te desmintas;
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Que aflitos, envergonhados,
Olhem para mim com susto;
Duvidem se o meu ditame
Era reto, ou se era injusto.
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Quanto sofre, quantas mágoas
O meu coração laceram!
Por ti somente as padeço,
Só de amar a lei, nasceram.
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Por ti suportei opróbios,
Confusão cobriu meu rosto;
Fez-me da pátria estrangeiro
O ódio que me era oposto.
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Com desdém os meus me olharam;
E sem dó do meu destino,
Me deixaram ir passando
Como passa um peregrino.
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Ah! Senhor! por que motivo?...
Porque o teu templo adorava;
E um ardente amor e zelo
Dá vontade me abrazava;
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Pronto a combater injúrias,
Que a ti, meu Deus, se fizeram;
Dos maus a vingança, os ódios
Desta origem procederam.
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Eis aqui o meu delito;
Eis aqui o que me resta;
Cobrir-me de cinza e luto,
E de pranto a face mesta.
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Mas esta mesma tristeza,
Esta acerba penitência,
Provocou novos insultos,
Foi ludibrio da insolência.
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Ora depravado Escriba,
Que juízes perversos,
Me insultam a inocência
Em sentenças, prosa ou versos.
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Eu surdo a seus vitupérios
A ti meus votos envio;
É tempo de me escutares;
Em ti, meu Deus, me confio.
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Acrescenta a teus prodígios
Mais um; escuta-me agora:
Salva-me, cumpre a promessa
Que fizeste a quem te implora.
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Queres, Senhor, por ventura
Que me trague a tempestade?
Que luto e pranto me abismem
Esforços de iniquidade?
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Não, meu Deus! tu me libertas
Das mãos dos perseguidores;
Das águas em que naufrago
De um fosso cheio de horrores.
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Não me deixes submergido
Nestes mares de amargura;
Não me apagues a esperança,
Não feches prisão tão dura.
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Dá-me, pois, algum conforto,
Qual tua bondade imensa
Distribui aos afligidos,
E as mágoas lhes recompensa.
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Olha para mim; não volte
O rosto para não ver-me;
Vê quanto sofro e padeço;
Isso basta a socorrer-me.
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Chega-te a mim; à minha álma
Dá saúde, mesmo à vista
Dos inimigos; e vejam
Que a ti não há quem resista.
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Bem vês como procuram
Cobrir-me de pejo a face;
Que não há dor, ignomínia
que eu não experimentasse.
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Porém na tua presença
Então sem véu as verdades;
Qual sou conheces, e sabes
De quem me insulta as maldades.
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Não pasmo do que me fazem;
Seu ódio sei, seus furores;
Impropérios esperava,
Crueldades e rigores.
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No meu desamparo extrêmo
Não achei quem me acudisse;
Quem me desse a mão caindo.
Ou que de mim não fugisse.
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Para apagar minha sede
Vinagre e fel me ofertaram:
Será, pois, a mesa destes
Como a que me prepararam?
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De espessas trévas cercados,
Tropeçarão nos seus laços;
E os grilhões que me puseram
Hão de carregar seus braços.
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Em tão mísera cegueira,
Privados da luz divina,
Irão curvados ao jugo
Do pecado que os domina.
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Veja a cólera celeste
Já sobre eles derramar-se;
O teu furor, Deus irado,
Vir nos máus desafogar-se.
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Serão seus lares desertos;
Seus palácios abatidos;
Seus opulentos domínios
Ficarão desconhecidos.
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Desgarrado o peregrino
Não atinará com a estrada;
De tanta glória e soberba
Restará silêncio, ou nada.
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Feridas a quem feriste
Sem piedade acrescentaram;
Por isso os bárbaros paguem
As dores que me aumentaram,
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Às suas iniquidades
Irão mais erros juntando;
E os castigos que merecem
Com mais erros provocando.
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E como a conta fecharam
No livro fatal da vida,
Da misericórdia divina
Fica-lhe a sua excluída.
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Seus nomes serão riscados;
E dos justos no congresso,
Pois que auxílios rejeitaram,
Ser-lhes-á vedado o ingesso,
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Eu, meu Deus, desconsolado,
Aflito, em penas nutrido,
A ti recorro, bem certo
Que hás de escutar meu gemido.
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Salva-me, Senhor, se queres;
Suavisa meus tormentos;
Hei de encodoar de novo
Harmônicos instrumentos.
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A cítara abandonada,
Do pó, da mudez tirando,
Irei com métricas vozes
O meu Deus magnificando.
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Mais te agradará meu canto,
Cheio de estro e de ternura,
Que outro qualquer sacrifício,
Ou vítima tenra e pura.
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Companheiros de infortúnio,
Afligidos, confortai-vos!
Os prodígios que Deus obra
Cantai comigo, alegrai-vos.
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Deus não desampara ingrato
Quem fiel sempre procura;
Ove o pobre; e não consente
Que pareça em prisão dura.
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Louve o céu, a terra, os mares,
E tudo o que o globo encerra,
O Deus que aos tristes acode,
Que domina o céus e a terra.
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O Deus que terá cuidado
De Sião e de seus muros;
Que a Judá novas cidades
Dará, e asilos seguros.
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Habitarão lá ditosos,
Verificada a esperança,
Esses a quem Deus entrega
Sua restaurada herança.
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Esta, prosperando fausta,
De filho a filho passando,
De Deus o nome supremo
Irá sempre recordando.
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Os que em santo amor se abrasam,
Entoando seus louvores,
Serão, com perpétyua glória,
De seu templo habitadores.
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Prestem especial atenção ao verso: "O Deus que terá cuidado
De Sião e de seus muros;
Que a Judá novas cidades
Dará, e asilos sguros."
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A paz é possível, mas os interesses dos poderosos não a permitem e nem querem.
Pesquisa e adaptação: Nicéas Romeo Zanchett
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