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sábado, 21 de setembro de 2013
domingo, 1 de setembro de 2013
A PRIMEIRA HISTÓRIA ESCRITA NO EGITO
A PRIMEIRA HISTÓRIA
Escrita no Egito pelo Escriba Annana
.
A primeira história do mundo que chegou até nós foi escrita pelo Escriba Annana.
Trata-se de um papiro, amarelado e carcomido, coberto de misteriosos caracteres, traçados a mais de trinta e três séculos. Pode ser visto no British Museum (Museu Britânico). Foi lido, decifrado e impresso, e no seu conteúdo tanto tempo escondido na noite do tempo, foi trazido para a luz clara e fraca do dia. É, portanto, um documento de inestimável valor para os verdadeiros amantes da história humana e da literatura mundial.
Apesar de todos os museus da Europa terem os seus rolos de papiros, em nenhum deles existia uma única obra de imaginação na forma de conto ou romance, até que no ano 1852 esta lacuna foi finalmente preenchida. Nesse ano, Mrs. D'Orbiey, uma senhora inglesa, viajando na Itália, teve a ventura de adquirir esse único papiro. Quando voltou, submeteu-o à inspeção de um dos primeiros egiptólogos, o Visconde Rougé, então superintendente da coleção egípcia de Paris. Este logo reconheceu o valor da descoberta e descreveu o caráter geral do papiro. Numa breve notícia sobre ele, que foi impressa na "Revue Archeologique", chamou a atenção dos sábios franceses para esta notável produção.
A história foi escrita em "in usum Delphini" para o príncipe Seti Mernephtah, filhodo faraó Ramsés Miamum, e era considerada como uma das obras primas da literatura egipciana. No final do documento está escrito: "Foi composto pelo escriba Annana, possuidor deste rolo. Que Deus Thoth livre de destruição todas as oras contidas neste rolo."
.
OBSERVAÇÃO: Os algarismos e números de páginas representam as linhas e as páginas de um papiro.
Observe-se que trata-se de uma história adaptada à nossa linguagem. Portanto, há certa dificuldade de ortografia e ordem de literária.
A HISTÓRIA
Pag. 1
1. Eram dois irmãos, filhos da mesma mãe e do mesmo pai. Anepu era o nome do mais velho, Batau o do mais novo. Anepu tinha casa e mulher;
2. Mas seu irmão mais novo ao pé dele era uma criança, e fazia-lhe fatos para vestir. Ele ia para o campo com os bois
3. (Só quando) se achava á lavoura ele era obrigado a auxiliar todos os trabalhos do campo. E vede! seu irmão mais novo
4. Era um bom trabalhador; não havia nenhum como ele em toda a terra... Logo que se passavam muitos dias,o irmão mais novo lá estava
5 - Com os seus bois, todos os dia, e todas as tardes os recolhia à casa. E, carregado.
6 - Com todas as espécies de ervas do campo, voltava à casa, para as dar ao seu (gado). E o irmão mais velho ficava com
7. Sua mulher, para beber e comer, enquanto o irmão mais novos ia deitar-se para a estrebaria com os bois.
8. E, quando a terra se iluminava e um novo dia alvorecia e a lâmpada (se apagava), então aparecia ele diante de seu irmão mais velho, e levava
9. O pão para o campo, para dar aos trabalhadores, e comê-los com eles. Depois andava com os bois
10. Que diziam sempre onde estava a melhor pastagem, e ele ouvia todas as suas palavras na maior das atenções. E lá os levava para o sítio
Pag. 2
1. Onde havia boa pastagem, com que eles se deleitavam. E os bois que ele seguia eram muito nobres; e multiplicavam-se
2. Extraordinariamente. Era então o tempo da lavoura. E seu irmão mais velho veio falar com ele e disse: Tomemos a junta,
3. Porque podemos lavrar; pois os campos tornaram a aparecer (depois da inundação do Nilo), e a estação é própria para a lavoura. Por conseguinte, vem
4. Para o campo com as sementes, e nós trabalharemos com o arado. E seu
5. Irmão mais novo fez o que lhe tinha dito... E quando a terra se iluminou
6. E despontou um novo dia, foram logo para o campo com a sua (junta), e fartaram-se de trabalhar no campo, e
7. Ficaram cheios de alegria pela realização de seu trabalho... Então veio a suceder
8. Depois de muitos dias que, quando estavam no campo, lhes faltavam as sementes, e o mais velho mandou
9. Seu irmão, dizendo: Vai depressa buscar sementes à aldeia. E seu irmão mais novo achou a mulher
10. De seu irmão mais velho a entrançar o cabelo. Dirigiu-se a ela, dizendo: Levanta-te, e dá-me sementes;
Pag. 3
1. Porque tenho de ir já para o campo, visto que meu irmão me disse para voltar imediatamente. Então ela disse-lhe: Vai
2. Abrir o celeiro e toma o que te apetecer, porque (se eu fosse) o cabelo destrancar-se-me-ia todo. Enquanto foi o jovem
3. À sua estrebaria e pegou num grande cesto, porque queria levar muito grão; e carregou com
4. O trigo e a cevada, e lá foi. Ela disse-lhe: Quanto levas/ E ele respondeu-lhe: Três medidas de cevada,
5. E duas medidas de trigo; ao todo cinco medidas, que levo no braço. Assim ela lhe disse: (Nesse ponto, a história conta como esta falsa e licenciosa mulher qual a mulher de Putifar, humilhada na sua perversidade, se vingou do mancebo, acusando-o falsamente; e para dr uma maior aparência de verdade à denúncia, feriu-se a si mesma, e pretendeu que fora o irmão de seu marido quem lhe fizera as feridas).
1.... À tarde voltou o marido para casa,
2. Segundo o seu costume de todos os dias, e ao entrar em casa, encontrou sua mulher prostrada, como se lhe tivessem feito mal.
3. E ela não lhe deu água para lavar as mãos, como era seu costume, nem acendeu a lâmpada, e a casa estava toda às escuras. E continuava estendida
4. Com o corpo descoberto. E seu marido disse-lhe: "Com quem falaste tu? levanta-te." Então ela respondeu-lhe: "Com ninguém, a não ser com teu irmão mais novo."... Então o irmão mais velho tornou-se
5. Como uma pantera, e afiou o machado, e tomou-o na mão. E pôs-se atrás da porta
6. Da estrebaria de seu irmão mais novo, para o matar quando recolhesse à tarde, quando trouxesse os bois para a
7. Estrebaria. E quando o sol se pôs, o mancebo apanhou todas as espécies de ervas de campo conforme costumava fazer todos os dias,
8. E dirigiu-se para a estrebaria, e a primeira bezerra entrou no curral. E ela disse-lhe: "Acautela-te com teu irmão mais velho que está aqui
9. Com o machado para te marar. Afasta-te dele." E ele ouviu as palavras da sua primeira bezerra.
Pag. 6
1. Entrou a segunda e falou-lhe do mesmo modo. E ele olhou por debaixo da porta da sua estrebaria,
2. E viu logo as pernas de seu irmão mais velho, que estava atrás da porta com o machado na mão.
3. E deitou o fardo ao chão e fugiu a toda a pressa e seu
4. Irmão mais velho foi atrás dele com o machado na mão. E o irmão mais novo dirigiu a seguinte prece a deus solar, Harmachis:
5. "Generoso Senhor, tu és aquele que apartas a mentira da verdade." E o deus Sol parou
6. Para ouvir todas as suas lamentações, e deu origem a um enorme rio que apareceu entre os dois irmãos, e que estava
7. Cheio de crocodilos. E um deles pôs-se numa das margens, e o outro na outra margem.
8. Seu irmão mais velho atirou duas vezes o machado, mas não o pode matar. Assim foi. E seu
9. Irmão mais novo gritou-lhe da outra margem: "Fica ai, e espera até que a terra se ilumine e o orbe solar apareça acima do horizonte, porque então quero
Pag. 7
1. Aparecer-te diante dele, a fim de que saibas toda a verdade; porque nunca te fiz mal algum.
2. Não quero ficar no lugar em que estás, e vou à montanha dos cedros." Quando a terra se iluminou e despontou o dia, então
3. O deus solar Harmachis apareceu, e eles olharam um para o outro. E o mancebo disse a seu irmão mais velho:
4. "Por que é que me persegues e me queres matar injustamente? Não houves o que minha boca profere, isto é, que sou em verdade o teu irmão mais novo, e
5. Tu foste para mim como um pai e tua mulher como uma mãe." (Veio-lhe então ao espírito a acusação que lhe tinha sido feita, e demonstrou ao irmão a sua inocência. A história continua -)
Pag. 8
1. Mas na alma de seu irmão ia uma perturbação dolorosa. E ali ficou a chorar e a lamentar-se, e para mais não podia ir ter com seu irmão mais novo por causa dos crocodilos.
2. E seu irmão mais novo gritou-lhe "Tu estás projetando algum crime, quando devia haver só bem na tua alma. Mas eu quero dizer-te uma coisa que tu deves fazer. Vai para casa
3. Guarda o teu gado, porque não morarei mais onde tu vives, e vou para a montanha dos cedros. E quando vieres procurar-me, deves fazer o que te vou dizer.
4. Fica pois sabendo que é preciso que eu me separe da minha alma e que eu possa colocá-la na flor mais alta dos cedros. E logo que se cortar o cedro, ela cairá no chão.
5. Quando vieres buscá-la, levarás sete dias a procurar a minha alma, sem o que não encontrarás. Depois coloca-a num vaso com água fria. Desta maneira voltarei à vida e responder-te-hei
6. A todas as tuas perguntas, para te ensinar o que deves fazer de mim... Arranja também uma garrafa com cozimento de cevada, cobre-a com os pés, e não te demores mais." E ele foi
7. Para a montanha dos cedros, e seu irmão mais velho tomou para casa. Logo que entrou foi matar
8. A mulher, lançou-a aos cães, e sentou-se a chorar por seu irmão mais novo. Depois de muitos dias o irmão mais novo veio para a montanha dos cedros,
9. E ninguém estava com ele; e passou o dia a caçar as bestas feras da terra, e à noitinha voltou à montanha para ficar debaixo do cedro, em cuja flor mais de cima jazia a sua alma. Passados muitos
Pag. 9
1. Dias construiu para si uma cabana sobre a montanha dos cedros,
2. E encheu-a de todas as boas coisa. Quando ia a sair da cabana, deu com os nove deuses,
3. Que tinha vindo satisfazer as necessidades de toda a terra. E os deuses falaram uns com os outros (e) disseram-lhe:
4. "Ó Batau, novilho dos deuses, por que estás tu assim sozinho, porque desertaste da tua terra? Foi por causa da mulher de Anepu, teu irmão mais velho?
5. Mas olha, essa mulher está morta. Volta para a casa de teu irmão; ele responder-te-a todas as perguntas." E todos eles sentiram perturbar-se o coração
6. Com a sorte do mancebo. Então falou o deus solar Hermachis a Chnum: Arranja uma mulher para Batau
7. Para que ele não viva sozinho. E Chnum fez uma mulher, e deu-lha, e era a mais bela de todas as mulheres
8. De todo o mundo; havia nela toda a juventude. E os sete Hathors vieram vê-la, e disseram numa só
9. Voz: "Ela terá uma morte violenta." E ele amou-a com todas as veras de sua alma, e ela sentou-se em sua casa, enquanto ele levava o dia
Pag. 10
1. A caçar as bestas feras da terra, e lhe trazia depois a seus pés a presa que fizera. E dizia-lhe: "O Mar ha de vir
2. E há de levar-te; pois eu não posso livrar-te dele...porque a minha alma jaz
3. No cimo das flores do cedro. Se alguém a encontrasse, eu tinha de lutar para a obter." E abriu-lhe todo o seu coração.
4. Passados muitos dias Batau foi à caça, como era seu costume todos os dias.
5. E sua mulher foi também passear para debaixo dos cedros que estavam ao pé de sua casa, quando, ai! O Mar a viu
6. E cresceu atrás dela, enquanto ela fugia dele a toda a força e saltava e se metia dentro de casa.
7. mas o Mar gritou ao Cedro: "Oh! como eu a amo!" Então o Cedro deu-lhe um anel de cabelo da jovem esposa de Batau. E o
8. Mar levou-o para o Egito; e depositou-o no sítio onde estavam lavando as lavadeiras da casa do Faraó E a fragrância
9. Do anel de cabelo comunicou-se à roupa do Faraó, e levantou-se uma contenda entre as lavadeiras
10. Do Faraó, porque elas diziam; "A roupa do Faraó tem a fragrância do óleo de unção" e todos os dias, por causa disso, se levantava uma contenda entre as lavadeiras.
Pag. 11
1. E elas não sabiam do que se tratava. Mas o chefe das lavadeiras do Faraó veio ao mar, porque lhe dava que fazer
2. Aquela contenda de todos os dias sobre o mesmo assunto. E pôs-se na praia mesmo em frente do anel de cabelo
3. Que estava no mar. Depois baixou-se, e apanhou o anel de cabelo; e viu que ele tinha um aroma delicadíssimo.
4. E levou-o ao Faraó. Foram chamados imediatamente os sábios escribas de Faraó. E eles disseram-lhe "Isto é um anel
5. De uma filha do deus solar, e nela existe tudo o que é divindade. Toda a terra lhe deve homenagem. Por isso manda mensageiros
6. A todas as terras, para a trazer, mas o mensageiro que for às montanhas de cedro deve ir acompanhado de muita gente,
7. Para que ele no-la possa trazer." E o Rei disse: "Acabaste de falar numa coisa realmente boa." E eles partiram. Passados muitos das
8. Veio a gente que tinha ido às (diferentes) terras trazer notícia ao Rei, mas não vieram
9. Os que tinham ido às montanhas de cedro, porque Batau os tinha morto, e deixado apenas um só, para contar ao Rei o que se passara.
10. Então o rei mandou muita gente, muito guerreiros a pé e a cavalo, para lhe a trazerem.
Pag. 12
1. E ia com eles uma mulher. Levava todas as espécies de vestidos de mulher. E veio então a mulher (de Batau) para
2. A terra do Egito e todos se regozijaram por causa dela. E o Rei logo a amou apaixonadamente.
3. E a levantou até a mais maravilhosa beleza. E disseram (à mulher de Batau) que ela devia revelar a história
4. De seu marido. Então ela disse ao Rei: "Manda decepar o cedro para que ele morra." Então
5. Foram homens com machado para decepar o cedro. E chegaram.
6. Ao pé do cedro. e cortaram-lhe a flor no meio da qual jazia a alma de Batau.
7. Então ela caiu no chão e ele morreu imediatamente. Quando a terra se iluminou, e um novo dia alvoreceu, foi
8. Cortado todo o cedro. E Anepu, irmão mais velho de Batau, veio á sua casa, e
9. Pôs-se a lavar as mãos. E tomou um vaso com cozimento de cevada, que ele tapou com os pés,
10. E outro com vinho, que tapou com barro e pegou no seu cajado
Pag. 13
1. E nos seus sapatos, no seu fato e na merenda, e dirigiu-se
2. À montanha dos cedros. E foi à cabana do seu irmão mais novo, e encontrou seu irmão mais novo estirado
3. Sobre uma esteira. Estava morto. E começou a chorar quando viu que seu irmão jazia como um morto. Então
4. Foi procurar sobre o cedro a alma de seu irmão mais novo, debaixo do qual seu irmão mais novo se deitava à noitinha.
5. E andou por ela durante três anos sem a encontrar. E quando chegou o quarto ano, a sua alma suspirou por voltar ao Egito.
6. E disse: "Partirei amanhã de manhãzinha". Tal era sua tensão. Quando a terra se iluminou, e um novo dia alvoreceu, encaminhou-se
7. Para o cedro, e levou todo o dia à procura da alma. E quando voltava para casa, ao anoitecer, e pela ultima vez relanceou os olhos em sua volta para ver se a encontrava,
8. Deparou com um fruto, e quando voltava com ele para a cabana, viu que era a alma de seu irmão mais novo. Então tomou
9. O vaso com água fria, pôs (a alma) lá dentro, e foi-se sentar, como era seu costume todos os dias. Logo que se fez noite,
Pag. 14
1. A alma absorveu a água, e Batau pôs-se a mexer com todos os seus membros e a olhar para seu irmão mais velho.
2. Mas o seu coração não tinha movimento. E Anepu, seu irmão mais velho, tomou o vaso de água fria, onde (estava)
3. A alma de seu irmão, deu-lha de beber, - ai está! - a alma foi colocar-se no antigo lugar.
4. Então ficou o que era d'antes. Abraçaram-se.
5. E falaram um com o outro. E Batau disse a seu
6. Irmão mais velho: "Olha, eu quero transformar-me num novilho sagrado com todos os sinais sagrados; ninguém saberá o mistério, e hei de escarranchar-te nas minhas costas. E logo que o sol nasça, havemos de estar onde está minha mulher. Dize-me se me queres levar até lá; porque será belamente recebido como é natural. E terás
7. Muita prata e muito ouro, se me levares ao Faraó, porque serei muito apreciado.
8. E choverão sobre mim aclamações de alegria por sobre a terra. Mas vai agora à tua aldeia. Quando a terra se iluminou
Pag. 15
1. E um novo dia alvoreceu, tomou Batau a forma que tinha descrito a seu irmão. E Anepu,
2. Seu irmão mais velho, montou sobre as suas costas quando o dia despontava. E quando chegou junto ao lugar,
3. Informaram o Rei que, quando o viu, ficou louco de alegria e deu em sua honra
4. Um grande festim, maior do que tudo o que se pode contar. E por causa dele foi uma alegria doida por toda a terra. E
5. Trouxeram prata e ouro a seu irmão mai velho, que habitava na sua aldeia, e deram-lhe muitos criados.
6. E muitas (outras) coisas, e Faraó estimou-o muito, mais do que a qualquer outro homem da terra.
7. Depois de passados muitos dias o novilho foi para o santuário e ficou
8. Exatamente no sítio onde estava a bela (sua mulher). Então disse-lhe: "Olha para cá, eu estou ainda vivo, por minha fé." E
9. ela disse: "Quem és tu?" e ele respondeu-lhe: "Sou Batau; foste tu que
10. me fizeste morrer quando ensinaste ao Faraó onde eu estava e disseste para deceparem o cedro.
Pag. 16
1. Olha para mim: eu estou ainda vivo, por minha fé, somente o estou sob a forma de um novilho." Encheu-se sua formosa mulher de um grande medo quando ouviu isto
2. De seu marido. E foi para o santuário, e o Rei sentou-se ao seu lado.
3. E foi belamente tratado pelo Rei. E disse-lhe:
4. "Jura-me, por Deus, que farás tudo o que eu te pedir". Prometeu-lhe ele fazer tudo quanto ela lhe pedisse, e ela acrescentou: "Deixa-me comer o figado dese novilho,
5. Porque tu não precisas dele." Assim lhe falou.Ficou ele muito aflito com o que ela lhe tinha dito, e a alma
6. Do Faraó sofria horrivelmente. Quando a terra se iluminou, e mais um dia alvoreceu, fizeram logo uma grande festa
7. Para oferecer sacrifícios ao novilho. Mas então um dos principais criados do Rei foi matar o novilho. E
8. Veio a suceder quando iam matar, o povo rodeou-o. E quando lhe deram uma pancada no pescoço
9. Coiram dois pingos de sangue no sítio onde estavam os umbrais do palácio do Rei; uma caiu de um lado
10. da porta do faraó, e a outra do outro lado. E saíram dele duas belas árvores persas.
Pag. 17
1. E cada uma delas vivia independente da outra. Então foram dizer ao Rei: "Duas lindas
2. Árvores persas, para ventura do Rei, surgiram esta noite no sítio do portão grande do palácio real e há uma grande alegria
3. Por causa disso em toda a terra. Passados muitos dias, o Rei
4. Adornou-se com seu colar de lápis-lazúli e pôs ao pescoço uma bela grinalda de flores. Ele ia num carro dourado.
5. E quando veio para o palácio, reparou nas árvores persas. E sua formosa mulher fora também num carro atrás do faraó.
6. E o Rei pôs-se debaixo de uma das árvores persas, mas uma voz disse à sua mulher: "Ah! falsa! Eu sou
7. Batau; estou ainda vivo, transformei-me. Tu ensinaste ao faraó onde eu habitava,
8. Para que me matassem; eu era o novilho, e foste a causa da minha morte." Passados alguns dias
9. A formosa mulher estava nas boas graças do Rei, e dirigiu-se-lhe assim:
10. "Jura-me que farás o que eu te disser." Então ele prometeu fazer
Pag. 18
1. Tudo que ele quisesse, e disse-lhe: "Manda cortar as duas árvores persas, que belas taboas se não hão de fazer dali!"
2. E tudo o que ela desejava se fez. Passados alguns dias, o Rei mandou
3. Vir esplêndidos operários para cortar as persas do faraó, e a formosa rainha assistia ao espetáculo.
4. E saltou uma lasca de madeira e veio cravar-se na boca da formosa dama.
5. E sucedeu, passados alguns dias,
6. Que ela teve um filho e vieram felicitar o Rei, "Nasceu-te
7. Um filho." E ele veio à luz, e deram-lhe uma ama, e mulheres para cuidarem dele; e era
8. Uma alegria por toda a terra. E deram-lhe um festival, e puseram-lhe
9 O nome; e o Rei amou-o desde logo com um grande amor; e designou-o
Pag. 19
1. Como príncipe de Etiópia. Passados muitos e muitos dias, o Rei fê-lo
2. Vice-rei de todo o país. Passados muitos e muitos dias, quando ele já tinha sido
3. Vice-rei por muitos anos, morreu o Rei, e o Faraó foi para o céu.
4. E o outro disse: "Vou convocar os mais poderosos e e mais ilustres da corte real; quero fazer-lhes conhecer toda a história.
5. Que aconteceu entre mim e a Rainha." E trouxeram-lhe sua mulher, e ele disse diante deles o que ela era e eles pronunciaram a sua sentença.
6. E trouxeram-lhe seu irmão mais velho, que ele fez vice-rei de todo o território. reinou trinta anos como Rei do Egito.
7. Quando acabou de viver esses trinta anos, seu irmão subiu ao trono, mesmo no dia do funeral.
Assim acaba este velho conto de mais de três mil anos. Quantas reflexões ele sugere!
Quantos pontos de contato ele apresenta com os contos e tradições de todos os tempos e de todos os países! Que curiosíssima luz ele projeta sobre os usos e costumes e as opiniões dos antigos egípcios!e, em particular, como traduz uma crença, não só na doutrina de transmigração das almas, como na existência da alma separada do corpo! Se o conto é absolutamente original, se ele foi extraído de origens anteriores, é um ponto de pequena importância; quer ao escriba Annana seja devido o mérito da invenção, quer somente lhe possa ser atribuído o mérito de embelezamento, o interesse é o mesmo.
A simplicidade e frescura, o estilo quase bíblico da narrativa, não pode deixar de impressionar o nosso espírito, mesmo numa difícil, mas inteligente tradução.
O escriba autor era contemporâneo de Moisés, e tal circunstância dá mais um aspecto de interesse à descoberta deste papiro. A semelhança entre algumas partes da narrativa do Gênesis e o estilo do escritor Egípcio pode ser explicada pelo fato de que Moisés foi instruído por homens como Annana e Kagabu de toda a ciência dos egípcios. É bem possível que esta história, este papiro, tenha caído nas suas mãos. Podem os escritos como este ter contribuído para sua educação. Por fim, eles nos levam a crer, mais do que nunca, que o grande legislador judeu tinha se preparado para sua missão na corte do Faraó e nas escolas do Egito.
As coincidências são muitas e não podem serem ignoradas.
Nicéas Romeo Zanchett
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