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segunda-feira, 2 de junho de 2014

BÍBLIA - O LIVRO DE SABEDORIAS ANTIGAS

BÍBLIA - O LIVRO DE SABEDORIAS ANTIGAS
Por Nicéas Romeo Zanchett 


                  Com o despertar da consciência, o homem primitivo passou a encarar o espaço que o rodeia como epifania do divino. A divisão do espaço sideral surge como padrão temporal traçado pelo movimento do planeta. Na medida em que evoluía, seu cérebro avolumou-se e adquiriu maior  capacidade para compreender seus semelhantes. Surge, então, a vontade de dominá-los e conduzi-los à sua vontade.  
                  Já com a consciência em bom grau de compreensão, percebe que todos temem a morte e esta seria a melhor maneira para dominá-los. Os mais sábios criam uma forma de organização social primitiva com base nos próprios medos e desenvolve-se o temor a alguém lá do céu que comanda tudo na terra. Os cataclismos ambientais, trovões, raios, vulcões, enchentes e outros fenômenos naturais, servem de exemplo para os líderes tribais.  Surge a forma mais primitiva de religião, mas ainda não escrita. Com o passar dos séculos surgem os primeiros reis e sábios. O nascimento, a morte e o renascer são a base para a criação de leis regulamentares que garantam a ordem e a paz. 
                   Tanto no Oriente como no Ocidente,  as religiões e crenças se desenvolveram com base no medo, ganância, imaginação e poesia. 
                   A Bíblia é uma joia literária das mais antigas. Nossa conversação diária e grande parte da literatura, principalmente ocidental, estão cheias de cintilantes frases da Bíblia. Consciente ou inconscientemente, dificilmente passamos um só dia sem citar a Bíblia. Ela está tão profundamente impregnada no âmago de nossa linguagem que nem notamos estar citando as chamadas "Sagradas Escrituras". Apenas como exemplo, cito: "seus dias são como a relva", "a menina dos olhos", "da boca das crianças", "o lírio do vale", "o vento levou". A dúvida sobre nossa eternidade continua: "morto um homem, viverá ele de novo? 
                  Parando um momento para pensar, iremos perceber que as religiões dominam a mente humana pelo medo, da mesma forma que a política o faz pelas leis e pela força militar.
                  Voltando à Bíblia, que só foi democratizada depois da invenção da imprensa  de Gutemberg, todos sabemos que eram escritas pelos escribas.

Os escribas transcreviam o que era ditado pelos sábios.
                    E assim surgiram joias literárias que chegaram até o nosso tempo. 
                    Os Provérbios de Salomão são apenas alguns dos ricos tesouros da sabedoria humana:  "
"Três coisas me são dificultosas (de entender)
e uma quarta eu ignoro inteiramente: 
O caminho da água pelo ar, 
o caminho da cobra sobre a pedra, 
o caminho da nau mo meio do mar, 
e o caminho do homem na sua mocidade". (XXX. 18.19)
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Vejamos agora o conselho sobre o casamento: 
"Vive alegre com a mulher que tomaste na juventude...
Os seus encantos sejam o teu recreio em todo o tempo; 
Mo seu amor busca sempre as tuas delícias". (V. 18.19. idem).
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                    Outra pérola literária da Bíblia é a seguinte:
"Bem aventurado o homem que adquiriu a sabedoria, e que está rico de prudência. 
Vale mais a sua aquisição que a da prata e os seus frutos são melhores que o ouro mais fino e mais puro. 
É mais preciosa que todas as riquezas, e tudo mais que se deseja não se pode comprar com ela. 
Na sua direita está uma larga vida, e as riquezas e a glória na sua esquerda. 
Os seus caminhos são caminhos formosos, e são de paz todas as suas veredas.  (III - 13-17. Idem).
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                     O filósofo e historiador inglês disse que a História de Jó é uma das mais grandiosas obras saídas do pensamento humano. Dizia:  "Nada se escreveu, penso, na Bíblia ou fora dela, de igual mérito literário." Esta história lança a perturbadora pergunta: "Por que o ímpio prospera e o crente sofre neste mundo?" E do seio do furação vem, na Bíblia, a resposta numa linguagem cuja majestade jamais foi sobrepujada: 
Quem é este, que mistura sentenças (preciosas) com discursos ignorantes?...
Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? 
Sabes quem deu as medidas para ela? e quem estendeu sobre ela a régua?
Sobre que foram firmadas as suas bases? 
ou quem assentou a sua pedra angular, 
quando os astros da manhã me louvavam todos juntos, 
e quando todos os filhos de Deus estavam transportados de júbilo? 
Quem pôs diques ao mar, quando ele transbordava, como que saindo do seio materno?
Quando é que eu pus as nuvens por sua vestidura,
e o envolvi em obscuridade, como a um menino entre faixas? 
Eu o encerrei nos limites que lhe prescrevi, 
e pus-lhe ferrolhos e portas, 
e disse-lhe: Chegarás até aqui e não passarás mais longe, 
e aqui quebrarás as tuas empoladas ondas. 
"Porventura entraste tu até ao fundo do mar,
e andaste passeando no mais profundo abismo? 
Porventura foram-te abertas as portas da morte,
e viste essas portas tenebrosas? 
Consideraste toda a extensão da terra? 
Declara-me, se sabes, todas estas coisas."
"Entraste porventura nos tesouros da nave, 
ou viste os tesouros da saraiva...?"
"Porventura poderás tu jantar as brilhantes estrelas Plêiades, 
ou impedir a revolução do Arcturo?..."
"Porventura o que disputa com Deus, tão facilmente o deixa?
Por certo que quem ergue a Deus, deve responder-lhe..."
(Jó - XXXVIII - 2-12, 16-18, 22,31. XXXIX - 32. idem) 
                  É interessante observar que escreviam como se fossem o próprio "Deus", que imaginavam para seus seguidores. Falavam de naves estelares referindo-se a Plêiades (aglomerado de estrelas). E isso tudo numa época tão remota, quando não se podia imaginar a tecnologia de hoje. Isso é, sem dúvida, uma prova de grande sabedoria. 
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                  O "Sermão da Montanha", muito conhecido, principalmente no ocidente, é considerado uma obra prima literária que a linguagem humana não conseguiu ultrapassar seus limites. 
                   Maomé, autor do "Corão", alegava que o tinha escrito no céu; talvez por isso seja considerada a mais estranha Bíblia existente. Ele dizia que uma vez por ano, trazidos pelo anjo Gabriel,  fragmentos dessa Bíblia eram descidos dos mais altos para os mais baixos planos do Céu.  Ao mesmo tempo, Maomé subia (assim dizia ele) ao Céu. Ali se encontrava com Gabriel,  que a cada ano lhe ditava uma parte do "Corão". Como Maomé não sabia escrever, esses trechos, dizia, eram transmitidos ao seu secretário que os anotava. Este escrevia tudo o que parecia estar à seu redor: um seixo, um omoplata de carneiro, um osso de camelo, uma folha de tâmara, um pedaço de pergaminho.  É dessa forma que foi redigida a Bíblia dos maometanos. Entretanto, a despeito do seu arranjo desordenado, o Corão  tem numerosas passagens interessantes. Em muitas passagens Maomé parece ter captado momentos de sabedoria, talvez ecoados do Velho e do Novo Testamentos. Podemos ver um exemplo na passagem de humildade, piedade e amor fraternal, onde diz: "E os vossos escravos, tratai de alimentá-los com os alimentos que vós mesmos comeis, e de vesti-los com os estofos que usais. E se cometerem uma falta que não estais dispostos a perdoar, vendei-os então, porque eles são os servos do Senhor, e não devem ser atormentados.". "Vós, ó gentes, ouvi com atenção as minhas palavras e entendei-as. Ficai sabendo que todo homem é irmão do seu semelhante. Todos vós estais no mesmo nível de igualdade." Até parece frases da Revolução Francesa. 
                  Para os maometanos, com toda sua razão, o Corão é uma das maiores obras literárias do mundo. Eles insistem tanto na sua beleza e santidade que em muitas mesquitas, embora seja um livro excessivamente longo,  é lido em voz alta do começo ao fim, em cada dia do ano. Para a longa leitura são necessários revesamentos de sacerdotes que vão lendo sucessivamente; cada novo grupo, dando continuidade, começa a ler quando o anterior está exausto.  
                  É espantoso, porém verdadeiro! - muitos sábios maometanos já leram o Corão cerca de 70.000 vezes. 

                    Do povo Indu herdamos dois dos mais notáveis livros: O Mahabharata e o Ramayana.

                      O Mahabharata é um dos livros mais compridos do mundo. Para se ter uma ideia podemos lembrar que livros como "E o Vento Levou", que foi um dos maiores já escrito, tem cerca de 1.000 páginas, mas mesmo assim fica longe do Mahabharata que tem mais de 7.000 páginas. 
                      Ai surge a pergunta: Quem é o autor dessa gigantesca obra literária ? Ninguém sabe. Provavelmente é o trabalho contínuo de milhares de poetas, mas nenhum se considerou digno de ligar seu nome ao sagrado livro. A razão é que os indus são talvez os mais profundos pensadores e o povo mais modesto da história universal. 
                      Em alguns aspectos o Mahabharata nos lembra a famosa Ilíada, de Homero. tal como a Ilíada , é um poema épico de guerra e intriga entre deuses e homens. E também, como a Ilíada, conta-nos a história de um conflito, originado da perda duma formosa mulher, entre uma nação e outra. Do ponto de vista literário, tem sido encarado por alguns, como por exemplo o Sir Charles Eliot, como "um poema maior que a Iliáde". Sem dúvida, contem passagens muito longas e monótonas que resultaram no seu volume estratosférico. Mas também encerra alguns dos mais belos trechos de todas as literaturas. Um dos maiores desses trechos é a Canção do Senhor (Bhagavad-Gita). Essa Canção é tida como o Novo testamento da Índia. Nos tribunais, os Indus juram sobre ele, como nós juramos sobre a Bíblia. Também Guilherme de Humboldt  chamou-o de " a mais profunda e talvez a mais sublime obra produzida no mundo". 
                       Krishna, o Ser Supremo dos indus, no trecho abaixo,  fala a um imortal: 
"Suspendem-se em mim
como no fio dum colar uma fieira de pérolas. 
Eu sou a doçura da água, eu sou a prata do luar e o ouro do sol. 
Eu sou o Verbo que bafeja nos livros sagrados, 
O segredo do éter e a força das sementes plantadas.
Eu sou o bom e suave odor da terra molhada, eu sou o chão vermelho do fogo, 
O ar vital em tudo quanto vive e se move, 
A santidade das almas consagradas, a raiz Imortal, 
que brota em qualquer parte onde esteja. 
A sabedoria do sábio, a música de tudo quanto é musical, 
A grandeza de tudo quanto é grande.
Porque eu sou tudo, e tudo em mim é um só. "

                    A segunda epopeia notável dos indus é o Ramayana, cuja autoria é atribuída ao poeta Valmiqui, mas, também aqui tudo é nebuloso e envolto em mistério. 
                     O que é interessante observar é que o Ramayana também lembra a Ilíada, de Homero, pois recorda a Odisseia deste autor. Tanto o Ramayana,  como a Odisseia descreve os trabalhos e viagens do herói, enquanto sua esposa aguarda pacientemente o seu regresso. Entretanto, as viagens de Rama são terrestres e não marítimas como foram as viagens de Ulisses.
                     Quando Rama finalmente volta, estabelece em seu reino uma espécie de Utopia, uma feliz Ilha dos Bem-aventurados, onde: 
"Ladrões embusteiros e joviais impostores não atraem com mentirosas palavras;
O vizinho ama o seu virtuoso vizinho e o povo ama o seu senhor...
 As chuvas caem a tempo devido, sem as frias rajadas esterilizantes; 
Ricos em meses e ricos em pastagens são os vales maciços e ridentes. 
Teares e bigornas não cessam de produzir, como produz o solo fértil e cultivado.
E a nação vive jubilosa, nas suas velhas fainas ancestrais. 
                O modo como Rama volta aos braços da esposa é muito interessante, conta-nos o poeta 
"num aeroplano". É bom lembrar ao caro leitor que isso se passa a mais de três mil anos, quando nem se pensava na possível existência de aeronaves. Seria uma alienígena, como a imaginação humana mostrou no filme "Eram os Deuses Astronautas?' ou algum veículo de uma civilização superior à nossa, mesmo que da terra, que depois foi extinta? Fica a pergunta para reflexão. 

                 A Bíblia persa, o Zend-Avesta (liro da sabedoria) é obra de Zoroastro. Esse profeta persa tem uma estranha história. Os persas acreditam que ele nasceu de uma planta e de um anjo. No dia do nascimento não chorou, mas riu alto, e os espíritos maus das trevas fugiram apavorados. A partir daquele momento Zoroastro foi consagrado a Ahura-Mazda, o Deus da Luz. 
                 Quando se tornou um jovem afastou-se da sociedade e foi viver no deserto. Lá, por muitas vezes, foi tentado pelo demônio; ele resistiu a tudo e até uma espada que lhe atravessaram no peito, além disso encherem-lhe o corpo de chumbo derretido.  Mas triunfou de trudo e deu o seu Zend-Avesta ao mundo. Em seguida, terminando seu trabalho, subiu ao Céu na asas de um relâmpago e assentou-se ao lado do trono de Ahura-Mazda. 
                 Até a morte de Zoroastro sua Bíblia já havia sido gravada em 12.000 couros de vaca. Hoje restam apenas alguns poucos fragmentos desse livro. 
                 De acordo com os ensinamentos de Zend-Avesta, há uma eterna luta entre  o Deus da Luz e O Anjo das Trevas. O Deus da luz criou a vida, a virtude e a felicidade. O Anjo das Trevas, em contrapartida, criou o pecado, a doença, o desespero e a morte.  Essa luta entre o Bem e o Mal deverá durar 12.000 anos; mas no fim o Bem triunfará. Todos os homens de bem serão reunidos no céu, e todos os homens maus cirão num negro e deletério abismo. 
                 Na passagem do Zend-Avesta, que transcrevo abaixo, poderá tomar conhecimento da beleza e majestade do Livro de Jó.
 "Isto eu te pergunto, ó Ahura Mazda:
Quem determinou os caminhos dos sóis e das estrelas? 
Quem é que faz a lua crescer e diminuir?
Quem sustenta a terra e o firmamento, sem os deixar cair? 
Quem faz as plantas germinar e as águas cair das nuvens? 
Quem emparelhou o carro dos ventos e os fez voar sobre a terra? 
- Dize-me quem foi?"
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CONFUCIONISMO
                     O maior profeta dos chineses foi Confúcio. Ele pregava uma religião baseada na adoração das coisas. 
                   Confúcio viveu no século IV antes de Cristo, ( 550 x 478 a.C.) Viveu na época dos profetas Ezequiel e Daniel na Palestina, de Sólon e Pitágoras na Grécia, de Buda na Índia. A China atravessava seu período feudal; os senhores feudais, onipotentes, viviam firmemente estabelecidos nas cidades cercadas de muralhas e rodeadas de fossos que impediam invasões. Cada poderoso senhor governava uma ou mais cidades, e as mais distantes deixavam a cargo de seus vassalos. Esses senhores sentiam-se verdadeiros deuses e desprezavam os  camponeses que consideravam vulgares por apenas se preocuparem com o que precisavam para viver. Esta cultura, porém, é bem diferente da das cortes ocidentais; tanto na China como no Ocidente, formavam-se grupos em redor dos príncipes e reis, porém, a corte feudal chinesa é envolvida por um ambiente de devoção. Lá sempre houveram os "lugares santos" , especialmente montanhas, e as próprias cortes feudais também se converteram e lugares santos. 
                     Foi nessa época e ambiente que nasceu o grande sábio CONFÚCIO. 
                   A história de Confúcio se perde no tempo e tem suas lendas bastante estranhas. De acordo com essas lendas, sua chegada ao mundo foi acompanhada de cantos de invisíveis espíritos e o ar que respirava era perfumado pelos anjos que o cercavam. Seu berço sempre foi guardado por dragões. Contam os chineses que seu aparecimento foi tão extraordinário como seu modo de nascer.  "Seu dorso era o dorso dum dragão, seus lábios eram os lábios de um boi e sua boca era como as águas do oceano". 
                    Segundo a história ele teve apenas um filho, mas na China de hoje  há cerca de 11.000 chineses que se dizem descendentes diretos de Confúcio. 
                    Ele foi um grande sábio, casou-se aos 19 anos e divorciou-se aos 23, período em que teve seu único filho. A partir de então passou a ter uma vida serena de humildade, sabedoria e bondade até sua morte aos 72 anos, idade avançadíssima para a época. 
                    Seu objetivo era cultivar a vida com prazer e ensinar a arte de governar a si mesmo e aos outros. 
                    Um dia Confúcio estava caminhando, para atravessar uma região montanhosa, quando viu uma velha senhora chorando sobre um túmulo. Aproximou-se dela e perguntou: 
"- Por que estais chorando, minha boa mulher? - 
- Por que não hei de chorar? O pai do meu marido foi morto por um tigre; depois meu marido foi morto por outro; agora meu filho teve a mesma sorte. 
- E por que - perguntou Confúcio - insistes  em viver em lugar tão perigoso? 
- Porque - respondeu ela - este lugar não é governado por um tirano. 
- Ah! sim, compreendo - disse Confúcio - Um tirano é ainda mais perigoso que um tigre."
                     Confúcio não criou uma Bíblia, mas seus ensinamentos são seguidos até hoje. Era realmente um homem muito sábio. Seu principal objetivo era ensinar o povo a viver bem. Não tinha nenhuma preocupação pelo que aconteceria com as pessoas depois de sua morte. Quando alguém lhe perguntava sobre o significado da morte ele simplesmente respondia: "Se não posso explicar a vida, como hei de compreender a morte?"



                   Ele tinha um simples e eficaz sistema de moral, que pode ser resumido em algumas de suas sentenças: 
"Sê leal para consigo mesmo e caridoso para com teu próximo. 
Ajuda quem precisa e não sejas severo para ninguém. 
Trata teu amigo com bondade e teu inimigo com justiça. 
Tem simpatia por todos os homens. 
Não dês atenção à calúnias ou a falas violentas. 
Trata seus superiores sem lisonja, e teus inferiores sem desprezo. 
Sê lento nas palavras e resoluto nas ações. 
Não faças a outrem aquilo que não desejarias que fizessem a ti". 
                   Confúcio era poderoso por sua sabedoria e seus ensinamentos não eram leis, mas são seguidos até hoje. Ele resumiu todos esses e outros princípios no seu retrato do Perfeito Cavalheiro, ou o Homem Superior.  Dizia ele: 
" - O homem superior possui oito importantes qualidades. 
A respeito de seus olhos, deseja fortemente ver claro.
A respeito do seu aspecto, deseja veementemente ser delicado. 
A respeito do seu procedimento, deseja fortemente que ele seja respeitoso.
A respeito de seu falar, deseja ardentemente que seja sincero. 
A respeito da direção de seus negócios, deseja que eles sejam honestos. 
A respeito de suas dúvidas, tem ânsias de perguntar e de aprender.
A respeito de suas paixões, deseja agudamente dominá-las. 
A respeito de sua atitude para com seus amigos, deseja grandemente ser justo.
                  Confúcio, ao contrário de muita outras doutrinas e religiões, não usava a força e nem o medo para dominar o intelecto das pessoas. Seu sistema ético sempre se baseou na delicadeza, justiça e paz.  Numa certa ocasião, um dos seus discípulos peguntou-lhe quais eram os mais importantes elementos de um bom governo. Ele então respondeu: 
" Deve haver suficiente quantidade de alimentos, suficiente número de soldados e suficiente grau de confiança entre governantes e o povo."
Seu discípulo então lhe perguntou: - "Mas se não houver remédio e um desses três requisitos tiver de ser dispensado, qual deles deverá ser sacrificado?"
- Os soldados" - respondeu-lhe prontamente.
                  Apesar de parecer poético, Confúcio não era um simples sonhador, mas um prático homem de Estado. Em certa ocasião chegou a exercer as funções de ministro da justiça na província de Lu. Foi ali que o rei da província lhe perguntou: - Como o Senhor pretende dar cabo ao furto? E ele respondeu: 
"- Dando cabo à avareza; se os ricos não fossem avarentos, nada teriam para os pobres roubarem."
                  Sob sua orientação, a província de Lu prosperou muito, despertando a inveja num rei de um país rival. Para conquistar o rei de Lu, ardilosamente, presenteou-o com oitenta das mais belas e sedutoras dançarinas que conseguira. A artimanha deu certo. O rei de Lu encantou-se tanto pelas dançarias e passou a considerar o velho filósofo pouco interessante diante de tantas beldades. Começou a banquetear com as dançarinas, abandonou e desconsiderou  Confúcio acabando por demiti-lo. 
                  O rei da província rival aproveitou a oportunidade e convidou Confúcio para fazer parte em sua côrte. Mas o velho sábio recusou, dizendo: 
" - Deixemos os reis divertirem-se com suas lindas moças e seus brilhantes dedos dos pés. Quanto a mim, permanecerei fiel ao meu único e exclusivo amor - a busca do mistério e do significado da vida."
                  Aos 68 anos de idade, o ancião pode, por convite do ministro da época, regressar á sua pátria Lu. Durante 14 anos vagou de um lado para o outro e agora permanece ali. As pessoas acorrem a ele em busca de conselhos, mas os poderosos não lhe deram nenhum posto oficial. Portanto, pratica sua profissão primitiva. Conversa com seus discípulos, lê e corrige os livros santos, comenta muito sobre o obscuro livro de profecias I-Quing e escreve uma história de sua pátria, Lu. Sente suas forças diminuírem e sabe que seu crepúsculo se aproxima. No ano em que regressou a Lu,  morreram seu filho Peiu e seu discípulo favorito Ien-Iuan. Seu estado de ânimo está declinando rapidamente, sentia-se péssimo e então disse: "O Céu me destruiu, o Céu me destruiu!" Numa manhã de abril do décimo quarto ano do reinado de Ngai-Quing (478 a.C.), com a idade de 72 anos, sente a presença da morte. Passeia por seu pequeno jardim, sussurando uma canção: 
"Tai Chan, a grande montanha, deve desmoronar-se, 
A forte viga deve quebrar-se, 
O homem sábio deve murchar como uma plantinha!" 
                    Somente seu neto, o único que se encontra junto a seu leito de morte é quem ouve suas últimas palavras: 
"Não surge nenhum governante inteligente que me tome como seu meste. Meu tempo terminou!"
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Nicéas Romeo Zanchett